OPINIÃO

O mundo, segundo o sargento Jorge

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O Mundo, Segundo Garp foi um exitoso filme estadunidense de 1982 onde brilhou a estrela de Robin Williams. O drama trata de Garp, martirizado pela fama de sua mãe escritora feminista numa época em que rasgar sutiãs era para poucas. Garp, marcado pela vida eclética de sua mãe, estabelece-se num patológico medo de perder os filhos. O brilho da atuação do ator remete às patologias que o mundo social apresenta.
Meu pai foi militar do exército por trinta anos. Teve outro mundo, sem patologias sociais. O mundo, segundo o sargento é lógico, disciplinado e hierárquico. Todos, desde o soldado cabelo-reco até o comandante, sabem suas atribuições. Trabalham em equipe, mutualizam as funções, apresentam resultados e no insucesso ou indisciplina enfrentam a 4ª parte – justiça e disciplina e, na leitura do boletim militar todos entendem e acatam o elogio ou punição. Todos, sem exceção, estão sujeitos à promoção ou cadeia. O mundo da caserna contempla o mérito e pune o demérito. O exército apresentou a meu pai um mundo repleto de regramentos de condutas. Ao soldado-cabo-sargento executor e ao oficialato comandador a regra é clara: cada um deve fazer sua tarefa. Disso resultou que meu pai-sargento tenha se tornado um romântico para uns, ingênuo para outros porque acreditava nas pessoas e nas palavras delas porque o tratado era cumprido. O mundo civil não é disposto assim, as regras são mais morais que disciplinares porque até há pouco tempo o xilindró era para o pobre que roubava penosas. À falta de receio de ir para a cadeia estimula delitos e muitos têm comportamento social bacana somente quando são submetidos à observação.
Então, os milicos voltaram à caserna há muito. O Brasil aspirou o retorno do comando civil, os militares devolveram os destinos do país ao mundo dos políticos, muitos lutaram e morreram por isso, de ambos os lados. E a gente votou e votou, numa enxurrada de pleitos. Mas, a verdade é que relaxamos, exercer cidadania não é somente exercer o poder de votar e o que vemos é a mixórdia lançadas as nossas faces diariamente. Realmente, escorraçamos a metade dos gatunos, príncipes da locupletação mas, ficou a outra metade. O descaso à hierarquia e disciplina, causam na ordem e progresso e falta comando e exemplos. Mas, sobram desvios e roubalheiras, cada escândalo será superado pelo próximo numa rede sem fim em que todos os partidos ou quase todos fazem parte de um emaranhado incompreensível ao cidadão comum. Com isso perde-se a esperança, estabelece-se o receio da falta de um futuro estruturado aos filhos e netos e quem pode sonhar sonha em morar em outro país, talvez nem tão tropical ou abençoado por Deus e bonito por natureza mas, num país onde as regras do bem viver social são praticadas de forma natural.
No mundo segundo o sargento, o professor ensina, o aluno estuda, o diretor dirige, os pais acompanham e o estado paga. No mundo que dispomos muito professor faz que ensina, o aluno cabula, o diretor não sabe o que fazer, os pais terceirizam a educação dos filhos e o estado não paga o que deveria ser para que tivéssemos uma educação para que o país tenha um futuro. Especialistas afirmam que a democracia é o melhor regime, também acho. A liberdade é boa, no entanto, deve ter alta responsabilidade, sem o que tendemos ao egoísmo e ao facilitário.
Não sei se deveríamos ser mais militares mas, há muito, ao perceber que os homens são incapazes de autogestão alguém sugeriu um contrato social delegando ao governo o comando de tudo. Foi o começo do fim da liberdade absoluta que muitos almejam. Pena que muitos não possuem a responsabilidade necessária para exercê-la.

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