Digitalizei minhas fichas de atendimento ambulatorial realizadas no São Vicente e a cada data de nascimento do paciente eu ia buscava o que de relevância tinha havido sob a minha ótica. Paciente nasceu em 1969 – neste ano eu gostava da Vera e estudava no Colégio Estadual Antônio Sepp em Cruz Alta; na minha cabeça batia “sentado à beira do caminho”, de Erasmo e Zingara, cantada por Bobby Solo. Na TV havia os dramalhões tipo “A Rosa Rebelde”, na Globo com Tarcísio e Glória. Ao ano1978 e veio-me ABBA em “Move On”, Rocky Balboa e durante a copa da Argentina eu corria pelas ruas de Passo Fundo principalmente quando a nossa seleção (Chicão-Jorge Mendonça) estava jogando; avenida Presidente Vargas vazia, chovendo e frio e eu solitariamente no asfalto matutando sobre a paixão platônica que eu de 21 anos nutria por uma linda senhora casada, coisas de piá. Perceba o leitor que para mim, pelo menos, tudo tem sentido, tudo se encaixa e nada acontece por acaso e, talvez, por isso, fica tudo marcado e a lembrança flui facilmente. Acho que desta forma, pelo menos, aproveitei e aproveito minha vida intensamente pelo fato de entender que tudo tem uma razão de ser.
A semana que passou marcou-me uma presença no Smith Bar quando na companhia de minha mulher e do casal Beti e Marcus Portela passamos momentos agradáveis. O pessoal que fazia a música ao vivo deu um show de competência. Entre eles estava o garoto Jean Novello (harmônica) que também é integrante do Old Dog, banda que já conhecia pelo clipe Duelo que minha nora Alana e Ramon Anunciação trabalharam e que foi mostrado neste último sábado no Maktub. Para quem ainda não apreciou atento para a formação: Rodrigo Accorsi no comando, a energia de voz e violão, a inquieta guitarra de João Schons, o competente baixo de Jordalan Muniz, bateria de quatro mãos de Marcelo Cassol e Novello carregando na gaita de boca. Também tive uma gaita de boca na infância, pena que não aprendi a tocar assim. Sabe o que é legal? É estar ouvindo o rock, eterno rock salpicando folk de Creedence, Southern melodioso de Elvis, Beatles e quase tudo que bombou quando eu era criança-adolescente. Mais legal ainda é que tinha uma gurizadinha que curtia tanto quanto eu evidenciando que a música é eterna principalmente quando muito bem tocada, como foi o caso desta banda que nos emociona e orgulha. Fiquei secretamente esperando que Jean Novello emendasse um John Barry, que me levaria como mágica a 1969-70 quando assisti Midnight Cowboy (perdidos na Noite) com John Voigt e Dustin Hoffmann, lá no inesquecível Cine Coral, na Santa Terezinha.
Passo Fundo está bem servida de músicos e eu fico triste pelo fato que nossa realidade social não permita a maioria dos artistas viva exclusivamente da arte. A gurizada batalha o dia inteiro e na noite está lá a brindar os felizes expectadores e ouvintes com baladas produzidas diretamente para quem vive da paixão, paixão por quem divide a travessia e pelo que faz.
Fiquei feliz e agradecido ao pessoal da banda por ter confiado a meus familiares a produção do clipe tudo a ver com a música. Pela arte do que se ouvia e do que se assistia- banda ao vivo-clipe – senti-me nuca capital e fazendo parte da arte; em outras palavras, senti-me sublimado.