Pode parecer estranha a defesa de uma ética climática. Talvez até seja complicado para explicar, mas não difícil de entender. Afinal, as preocupações com a questão do aquecimento global e seus possíveis impactos sobre os ecossistemas e sobre as sociedades, mesmo havendo aqueles que, interessadamente, neguem; não podem mais serem ignoradas. E, admitindo-se a atividade humana, pelo aumento das emissões dos chamados gases de estufa, como sendo a principal responsável por esse temido aquecimento, nada melhor que considerar aspectos éticos para orientar os debates e regulamentar o relacionamento entre as nações, e - por que não? - também nos limites do território de cada país.
Antes de qualquer prova em contrário, independentemente do assunto, todo mundo tem um comportamento genuinamente ético. Ou pelo menos pensa que tem. E na questão clima/ambiente não poderia ser diferente. Leis, convenções, tratados e acordos buscam normatizar as relações que envolvem clima/ambiente e sociedades, quer seja no cenário mundial ou interno de cada nação. Ninguém ousa admitir que não estivesse sendo ético, ou pelo menos não fazendo uso da sua liberdade de decidir, ao se recusar assinar tratados internacionais, tipo Protocolo de Kyoto, por exemplo. Ou, melhor ainda, quando não quer cumprir o estabelecido, seja por mero acordo de cavalheiros ou firmado em leis, no tocante à poluição e à preservação do ambiente.
Ao que parece, as politicas relacionadas com clima/ambiente e sociedades, há algum tempo em discussão no cenário mundial, mais refletem uma forte disputa de interesses entre grupos competidores, cada um buscando a “sua política mais favorável”, do que propriamente visam a atender os problemas já detectados e que preocupam o futuro da humanidade. Por razões óbvias, em sendo a ética a responsável pela definição dos limites do uso que fazemos da nossa liberdade, uma adequada política sobre clima/ambiente e sociedades deveria, necessariamente, ser baseada em alguns fortes princípios éticos.
E quais seriam os aspectos éticos a serem considerados? Pelo que foi exposto anteriormente, cabe a indagação. Embora não se limitando, algumas coisas podem ser discutidas. Começando pela questão da equidade entre gerações. Ou seja: não dá para fugir de responsabilidades. A geração atual não pode fazer de conta que não tem nada a ver com os estragos já causados, que o que está feito está feito e pronto. Ou, que pegou o barco andando e não pode fazer mais nada. E que não cabe a ela corrigir o passado, preocupando-se apenas com o presente e não dando atenção ao futuro. Isso é fundamental, pois os impactos maiores do aquecimento global serão observados no futuro, porém são dependentes do passado e do presente. Por isso mesmo, não se pode agir no presente como se tudo fosse ilimitado e sem maiores consequências, numa autêntica liquidação do futuro.
Também não se pode fazer de conta que não existirão “vencedores” e “perdedores” nos diversos cenários futuros de mudanças do clima global. Eles existirão sim. E, embora tanto nações ricas como pobres serão afetadas, muitas das hoje consideradas pobres e/ou em desenvolvimento poderão engrossar as fileiras dos novos miseráveis. Nesse sentido, carece uma rigorosa avaliação do clima regional, suas potencialidades e impactos, para fins de uma exploração com justiça do presente.
Alguns princípios básicos são indiscutíveis. É o caso típico do “quem polui paga”. Não se pode colocar na conta de todo mundo o modo de vida nababesco e o consumo exagerado de alguns, que não querem assumir qualquer compromisso de preocupação com as questões climáticas futuras. Ainda, o “princípio da precaução”, porém sem exageros, pode ser posto em prática sim, quando se trata do uso de novas tecnologias e riscos para o ambiente.
Apesar da reconhecida importância desses e de outros aspectos éticos nas relações clima/ambiente e sociedades, tem havido uma sistemática negligência acadêmica e individual, quando se trata da sua inclusão nas discussões.