Imagine uma sala de aula com 100 alunos. Do total, 19 não são aprovados e precisam repetir o ano. A situação não está longe: os dados representam, em porcentagem, o índice de repetência dos estudantes do ensino médio da rede pública de Passo Fundo em 2015. No contexto real, dos pouco mais de 5,1 mil alunos, 972 não passaram para a série seguinte. De acordo com dados divulgados pelo Mapa Social do Ministério Público RS – incorporados através do Ministério da Educação – o ano com índice mais baixo de repetência, desde 1996, foi o de 2000. Na época apenas 4,8% dos alunos não passaram para o ano seguinte. Desde então, o contexto é oscilante: em 2005 o índice subiu para 8%, enquanto os anos de 2009 e 2010 registraram o maior número de reprovações da história do município: pelo menos 20,4% dos alunos foram reprovados. O valor desce em 2012 (14,5%), mas volta a subir em 2013 (17%).
Do total, a maior frequência de reprovações acontece no primeiro ano do ensino médio: 26% dos alunos reprova neste ano, em comparação com o segundo (16%) ou o terceiro ano (9,3%), por exemplo. Como consequência, o primeiro ano também é aquele em que se registra o maior índice de desistência da escola: pelo menos 10% dos alunos saem das salas de aula antes de pegar o certificado de conclusão. Para o professor e coordenador da 7ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Santos Olavo Misturini, estes índices não se explicam sozinhos – eles vêm acompanhados de um combo de questões que nascem junto dos anos iniciais do ensino fundamental. “A transição do ensino fundamental para o médio é muito complicada por que existem lacunas muito grandes entre eles. Mesmo que o aluno tenha estudado em uma mesma escola a vida inteira, o aprendizado exigido no ensino fundamental e médio é diferente. A construção de conhecimentos não é efetiva e traz uma distância muito grande entre o real e o irreal”, destacou ele.
O jeito, como afirma ele, é buscar um currículo que aproxime o ensino fundamental e médio. Em resumo, a ideia é que não exista um “abismo” entre eles, mas que possam “dialogar civilizadamente” em sua estrutura educacional. “A nível de RS já temos um roteiro sendo distribuído que segue o novo plano de educação nacional. Temos trabalhado junto aos orientadores pedagógicos para que façam os levantamentos específicos das habilidades que os alunos precisam e da forma de como se identificam dentro do processo pedagógico”, completa o coordenador. De forma prática, Misturini explica que o problema está na didática do ensino. “Os alunos chegam no nono ano e não entendem muitos dos conteúdos que seriam base para o ensino médio na prática. Eles só aprenderam para a prova, mas não têm o domínio do conhecimento. A mudança é complexa e exige comprometimento por parte dos professores e alunos – o que não é simples de tirar do papel”, analisa ele.