Caudas em calda
Falso ou verdadeiro, diz-se que brasileiro adora um escândalo. Podemos ser divididos entre os escandalizadores e os escandalizados. Vivemos um delicado período em que a podridão veio à tona. A lavanderia, outrora mais discreta, agora é uma escancarada vitrine. A plateia boquiaberta acompanha o desfile das grandes falcatruas. Não há ineditismo nesse filme triste, mais um capítulo da trilogia poder, dinheiro e corrupção. É muito interessante observar que nesta inflamada arquibancada não faltam corruptos e corruptores. Sim, agora a corrupção de pequeno porte está perplexa com a (má) conduta dos gigantes. Poxa, isso é oportunismo da hipocrisia. A troca de favores ou conhecidos quebra-galhos também são crimes de corrupção. Claro, justificados pela alvejante expressão “jeitinho brasileiro”. Pequenas empresas, pequenas propinas. Megaempresas, megapropinas. Ou mudando o comprimento do rabo a culpabilidade seria perdoada? Caudas pequenas e caudas compridas são servidas na mesma calda. E, em alguns casos, até muito bem emaranhadas.
Berço I
Em período delicado, logo após a morte do meu pai, aos 17 anos ingressei no Aeroclube de Erechim. Mais do que uma escola de aviação, encontrei um ambiente perfeito para um menino dar um salto e conviver com a barba que brotava no rosto. Um mundo fascinante, porém repleto de exigências. Tudo era atrelado aos padrões da aviação. Eram necessários estudos sobre navegação aérea, aerodinâmica, meteorologia e muito mais. Inspeções e manutenções eram constantes para respeitar os padrões de segurança. Mesmo cursando o segundo grau em boa escola pública, enfrentei rombos curriculares. Mas os meus instrutores no aeroclube, Ademir Roesler e Assis Fianco, me auxiliaram com os necessários conhecimentos de física e matemática.
Berço II
Graças aos ensinamentos obtidos no aeroclube, tirei de letra o vestibular e ingressei no Direito da UPF. Tive o privilégio de ser aluno de grandes mestres como Carlos Galves, Dárcio Vieira Marques, Luiz Juarez Nogueira de Azevedo, Celso Busato, Celso da Cunha Fiori, Verdi de Césaro e outros. A vida acadêmica flutuava em elevado nível, assim como as aulas teóricas e práticas do aeroclube. O velho hangar foi o meu segundo berço. Sala de aula, livros, macacão de voo, abastecimentos, pousos e decolagens. O cheiro da gasolina de aviação era um perfume. Logo descobri que eu não era mais um menino. Então, compreendi a importância dos aeroclubes na formação de cidadãos.
O brilho
Tendo como anfitriões Lorena e Aldrian Ramires, há 32 anos mantemos a tradição de apreciar um bacalhau na Sexta-feira Santa. Em 2017 erguemos um brinde ao confrade Antoninho Ferri que já se foi. O bacalhau na panela é carro-chefe, mas sempre surgem variações. A turma cresceu. Além de Maurício, Augusto e Ana Paula, Fernanda e Leonardo, chegamos à terceira geração dessa bacalhoada familiar com o Gabriel e a Sofia. E não faltou empolgação quando flambei os pimentões. O brilho nos olhos dos pais passou para os filhos e agora é dos netos. Bacalhau em ótima companhia é uma excelente penitência.
Trilha sonora
Em 1979, auge da carreira dos Bee Gees: Too Much Heaven
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