OPINIÃO

Pariunt Montes

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A visão sectária sobre a finalização dos julgamentos das denúncias e processos formalizados pode surpreender o desejo de condenações. Mesmo as sentenças de primeira instância proferidas pelo juiz Sérgio Moro, na operação Lava Jato, perante as leis penais submetem-se ao regramento de prazos prescricionais, recursos, e outras ponderações legais. A mídia indica que não se propõe aos esclarecimentos sobre a expectativa de punição. Ao contrário, vemos um cenário de incitação que insiste no pré-julgamento de agentes políticos apontados no palco da corrupção, repetindo depoimentos de menor concisão, e relatando como provas plenas de delitos. A insistência em incriminar Lula, por exemplo, gerou momentos de temeridade perante a missão de informar num conjunto de investigações que envolvem outro tanto dos fatos que não tiveram a mesma insistência. A impressão é de que foram esquecidos personagens citadas em suposta corrupção, como Calheiros, Aécio Neves, Cunha, e outros. O mérito desse processo gigantesco poderá resultar em condenações tanto para um segmento como a outro, no aspecto partidário. Mas não é a imprensa que decide. É o judiciário. O assunto remete a uma das grandes frustrações no episódio Apartheid que envolveu a luta heróica do líder Stephen Bantu Biko, na década de 70. Os cidadãos iam às ruas na luta libertária e eram mortos pela repressão branca. Biko conseguiu chegar à ONU para uma decisão favorável ao direito dos cidadãos negros, contando com a posição de países que prometiam acolher a proposta libertária. Foi dolorosa frustração. Biko, líder culto e corajoso fez pronunciamento marcante às nações. Citou a frase de Horácio dirigida ao senado de Roma: “Pariunt montes, nascetur Ridiculus mus” (as montanhas estão em dores de parto, e nasce um ridículo rato). Sem o socorro das nações poderosas, o herói voltou à luta nas ruas onde foi morto. Mandela retomou a caminhada.

Cuidar da esperança

A população brasileira mantém a esperança na investigação policial para punir corruptos. Os fatos denunciados na mídia fazem parte da necessária transparência. Os julgamentos antecipados, todavia, não devem semear futuras decepções por simples atitudes solertes de opinião. Recentemente tivemos a decisão do Supremo em relação ao goleiro Bruno, que deve continuar preso após decisão soberana do Tribunal do Júri. Isso mostra que existem circunstâncias processuais que decidem. Há casos de condenados por corrupção que poderão responder em liberdade até que a sentença transite em julgado. Cada caso tem suas peculiaridades.

Fortunas

A restituição do dinheiro roubado, nunca na sua totalidade, no entanto, é punição e eficiência. Repetimos o que estamos dizendo há muito tempo, que o bolso ainda é a parte mais sensível dos corruptos. A prisão afeta diferentemente o acusado. É vergonha íntima que alguns não sentem.

Sangue pela terra

A Pastoral da Terra, movimento social da Igreja Católica, atua na defesa dos agricultores assassinados em Colniza, no MT. É decepcionante o desdém do Congresso Nacional em relação à chacina. E não falta opinião idiota pretendendo diminuir a ação humanitária da Pastoral que se opõe a esse poder predatório de inescrupulosos que desmatam reservas florestais e matam pessoas pelo lucro desmedido. A morte de trabalhadores rurais e pobres das periferias urbanas não é percebida por pessoas de nível social mais abastado. Até a indignação humana está em crise!

Retoques:

  • Os principais postulados da reforma trabalhista logo serão conhecidos pelo propósito de desarticular a força representativa do trabalhador. Direitos fundamentais do operário sofrem diluição.
  • As lutas sociais sempre merecem ativação, quando nascem para melhorar a vida dura das pessoas. Recebemos a mensagem escrita por Davide Cali que observa o surgimento do bem como o nascer das flores: “ L’amour c’est une chose s’ouvre lentament...comme lês fleures au printemps.” As coisas certamente vão melhorar, mas é preciso esperar a primavera. 
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