A Academia Passo-fundense de Medicina, juntamente com a Academia de Letras, associada a familiares, amigos e colegas desportistas prestaram reconhecimento à vida e obra do recentemente falecido Dr Sergio Lângaro. Homem de múltiplos talentos soube exercitar todos eles, deixando um legado de reconhecível competência e elegância profissional. Deixa uma rica história de harmoniosa convivência pessoal e profissional e um séquito de amizades, de seguidores e de tietes. Deixa, no entanto, uma enorme lacuna no coração de todos os que tiveram o privilégio de sua companhia. Menos mal que na noite da homenagem-reconhecimento estavam alguns dos notáveis colegas que continuam a carregar a grande tocha das virtudes profissionais estampada pelos grandes mestres, entre eles Dr Sergio. Osvandré Lech com a costumeira maestria referendou os sentimentos de agradecimento em nome de todos. A convivência com gigantes deve despertar o empoderamento, para usar uma expressão da hora e senti-me com a sensação de dever a cumprir. Nem todos somos da turma de Sergio Lângaro e de outros imortais da Academia mas, estamos aí, na luta, na batalha da formiguinha. Durante a cerimônia veio-me o poeta curitibano Paulo Leminski e uma lápide num cemitério qualquer: “aqui jaz um grande poeta / nada deixou por escrito / esse silêncio, acredito / é a sua obra completa”. Sobre médicos, infelizmente faleceu o colega Domingos Núncio (Dr Dominguinhos) simpática figura indissociável ao Hospital César Santos. Parceiros em inúmeros plantões deixa saudades nos colegas de sempre – Drs Jaime Debastiani (in memorian), Hélio Renan, Claudio Machado, Sergio Machado, Claudio Goelzer, Luis Carlos Trombini, Albino Gazzoni, Gilberto Oliveira, Aiglon Simas Filho, esqueci alguém? – essa turma toda que durante mais de uma década foi fundamental pela contribuição social em manter aquele estabelecimento de saúde em funcionamento.
Em 1968 meu velho pai adquiriu com sacrifício uma enceradeira. Era para dar um descanso a milha mãe, com seis filhos crianças e que administrava a velha casa de madeira. Lavar o assoalho, parquetina e lustrar era trabalhoso para quem tinha zilhões a fazer. A enceradeira, a TV Admiral de 14 polegadas e o refrigerador Steigleder eram nossos objetos de maior valor. Meu irmão Binho padecia de patologia ainda sem diagnóstico e um dia meu pai adentrou à casa com um desconhecido para analisar a enceradeira. A seguir ela foi embora de nossas vidas por necessidade de “pagar o médico” que atendia meu irmão. Fui chorar no quarto – criança não entende a vida como ela é. A medicina humanizada ficou impregnada na minha pessoa, não seria assim se seu fosse médico no futuro, prometi. Talvez por isso, seja eu quase que um corpo estranho no mercantilismo do mundo de hoje. Mas, isso não é meu, copiei de alguns professores, uns que se foram, outros que aí estão.
Então, esse fim-de-semana é de sonho para a família de José Henrique e Beti Bassani pela formatura da Medicina de sua filha Gabriela. José Henrique (Tito) é um dos melhores caras que surgiram na minha história. Ele tendeu à Engenharia e ficamos muitos anos sem contato mas, é o mesmo menino que conheci em 1970: sensibilidade e inteligência superior. Que bom que haja gente assim. Tua filha, Tito...bem tua filha é um doce, daqueles bem doces, tão necessários às necessidades dos pacientes. Seja bem vinda, doutora, precisamos de gente do teu quilate.