OPINIÃO

Scout

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Completei ontem sessenta anos de uma intensa e harmoniosa vida. É de bom tom apresentar um scout (balanço) do que me foi ofertado e o que de bom foi extraído. Nessa trajetória vim com uma espécie de código de barra, ou seja, vim mapeado com algumas características que foram aprimoradas ou que não tive a capacidade de desenvolver. E desses circunstantes aprendi a maior de todas as missões, a de que estamos em estado beta, aquele do aperfeiçoamento permanente, a busca eterna da batida perfeita. Meu velho pai era humanista e acreditava que todos eram bons. Dele não segui essa premissa ao pé da letra mas, desenvolvi outra parecida: a de que todos podem ser melhores do que são independentemente do tamanho que se tenha. Da minha velha, que me ensinou os valores da alma, adquiri a ponte do espiritismo desde cedo como se ela me indicasse o caminho para permanecermos em contato quando nossos corpos físicos se separassem de vez mas, mais do que isso, que eu buscasse a missão diletante de agraciar as pessoas com as ajudas necessárias quando enfrentassem seus piores momentos.

Na caminhada aprendi em todos os capítulos desde a infância até essa idade. Nessas estradas encontrei mestres que me indicaram caminhos, que me prestaram auxílios e conselhos, namoradas maravilhosas que me acolheram em suas casas e famílias e fui moldado até estar ao ponto de ser merecedor da mulher definitiva a qual necessitaria de mais 120 anos para agradecer o tudo que me é ofertado no cotidiano. Ganhei irmãos iluminados, amigos de valor imponderável e filhos que são fontes dos meus orgulhos e a eles dei a absoluta liberdade de buscarem seus caminhos e serão felizes porque têm berço.

Então, qual é o butim? O que de interessante há para ser deixado? Bem, a vida é simples e pode ser intensamente feliz, pensava eu na madrugada de anteontem quando retornei de uma cirurgia de emergência. Sem sono, fiquei à varanda a fitar a chuva que batia nas poças ou em contraponto à luz das lâmpadas dos postes. É lindo e é de graça, assim como o sorriso de uma criança, assim como o anoitecer-amanhecer, como o canto do bem-te-vi ou sabiá. O butim é que devemos ser solidários, mais do que isso, devemos ser prestativos, tolerantes e pacientes com as pessoas que nos cercam. E elas estão por toda a parte, estão no ambiente de trabalho-social-escolas-ruas-escritórios. É preciso que a gente acrescente qualidade na vida dos outros. Acredito absolutamente que nada acontece por acaso, que tudo tem uma razão de ser, que ninguém entra nas nossas vidas de forma aleatória. Acredito que é preciso mais congraçamento entre as pessoas.

Acredito por fim que há almas de diferentes tamanhos. As gigantes permitem que se faça coisas de igual tamanho e há almas menores, erráticas e sobre as quais os gigantes devem preponderar.  Uma alma gigante não comete deslizes como falsidade, inveja e ganância, uma alma gigante só faz coisas boas. E isso somos nós, escalados para a travessia e com uma missão – a de sermos propulsores de um mundo equilibrado exatamente como aquele que sonhamos em deixar para os filhos e netos. Meu butim, o que deixarei, é o de tentar ser merecedor de não ser somente pessoa, ser mais que isso, ser gente.

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