Na busca pela viabilização de uma triticultura genuinamente brasileira, competitiva e sustentável segundo os ditames do mercado, há um camarote de honra reservado aos profissionais de assistência técnica, aos produtores/empresários rurais e aos dirigentes das organizações de representação de agricultores; que ainda aguarda para ser ocupado.
Aos assistentes técnicos cumpre saber planejar e manejar as lavouras nos domínios do que há de melhor em tecnologia de produção de trigo no Brasil,sempre em conformidade com as diferentes realidades regionais e dosempreendimentos ao quais prestam serviços. E ao produtor rural cabe valorizar o profissional de assistência técnica, remunerando condizentemente o seu trabalho, e, por ser, em última instância o tomador de decisão, fazer a gestão efetiva de todo processo da produçãoaté acomercialização, sem perder de vista a relação custos/gastos de produção e a expectativa de preço que vai receber pelo trigo no momento da colheita; que, invariavelmente, segue o mercado internacional e mais os custos de internalização do cereal no País. Ano após ano, desde 1990, quando o Governo Federal, deixou de ser o único comprador e também o único vendendo de trigo no território brasileiro, via o Banco do Brasil, que o mesmo enredo se repete. Então, algo pode ser feito?
Indiscutivelmente, apesar de árduo, há um caminho, que como dizem os versos do poeta espanhol Antonio Machado – “Caminante, no haycamino,/se hacecaminoal andar.”–precisamos construir enquanto trilhamos. E esse caminho não pode ser outro que não seja o alinhamento da produção de trigo no Brasil, em custos e qualidade tecnológica, pelo mercado internacional. Há que se entender claramente que usar bem a tecnologia de produção não é sinônimo de gastar mais. Quem pode taxativamente afirmar que uma prática milenar como a rotação de culturas, sabidamente responsiva em trigo, deve ser relegada? Baseado em que, alguns princípios básicos da fitopatologia/entomologia podem ser trocados por um calendário de aplicação de agrotóxicos? Qual a razão para o uso de adubos previamente formulados, não raro com algum nutriente acima do nível crítico presente no solo, em vezde aplcar estritamente o que falta e vai ser extraído pela cultura? Análise de solo tornou-se dispensável? Por que desperdiçar um nutriente caro e fundamental para o trigo como nitrogênio fazendo um mau manejo das adubações em cobertura, por meio do fracionamento excessivo de doses e aplicação em momentos que potencializam a volatilização de amônia? Deonde vem a necessidade tanta pressa para semear as lavouras, com, quase sempre, resultados desastrosos em falhasno estabelecimento de plantas? Ou seja, tão somente pôr em prática os conhecimentos que são sobejamente ensinados nos bons cursos de Agronomia do Brasil.
A gestão do empreendimento é de responsabilidade do produtor rural, desde a compra dos insumos até a venda dos grãos (quando for essa a finalidade). E, nesses dois extremos, há espaço para melhorar a eficiência nos gastos e nos ingressos, no que tange a escala e oportunidades. Talvez olhar mais para a margem de contribuição deixada pelo cultivo de trigo, no que diz respeito à diluição dos custos fixos do empreendimento, do que propriamente valorar os custos de produção. Nesse caso, um bom começo e ver as possibilidadesde interferência de gestão nos custos fixos, nos custos variáveis e nos custos operacionais.
Às organizações de produtores de trigo, além do papel junto aos agentes políticos, cabe o desafio de buscar a construção de novos mercados para o trigo brasileiro, via a exportação. Para isso, precisamos de competitividade em preço, estabilidade e identidade de qualidade tecnológica para o trigo brasileiro. A inciativa Fecoagro - Embrapa Trigo para o desenvolvimento do trigo brasileiro padrão exportação é um começo. Por enquanto, o primeiro passo de uma longa caminhada ainda por ser construída.