Os interésses
Os últimos acontecimentos, ou melhor, as últimas revelações chacoalharam com o País. Foi impactante, claro. Muitos ficaram surpresos ou escandalizados diante das denúncias. Confesso que não me admirei com a tamanha fedentina da safadeza. Sempre soubemos que a patifaria existe e é exercida com intensa regularidade. Quando a cidadania é ofuscada ou vilipendiada, podemos encontrar um rumo nos fundamentos do Estado. Assim, recorrendo àTeoria Geral do Estado, recordo do professor Dárcio Viera Marques enfatizando o Bem Comum como objetivo do Estado. Porém, a praxe transformou os fundamentos. O bem e o mal se confundem na penumbra da ganância, enquanto o incomum transformou-se em comum. Infelizmente, a corrupção foi institucionalizada como um novo elemento do Estado. E, pior ainda, um elemento objetivo! Deteriora poderes e determina comportamentos retrógrados para a sociedade. Age do vértice à base e vice-versa. O Brizola tinha razão quando nos alertava sobre os interésses. São essesinterésses que produzem a incontrolável energia que movimenta a corrupção.
Os interessados
A primeira tijolada veio de uma grande empreiteira. Depois, o monopólio da carne deu um bife na cara. O construtor e o açougueiro seriam os únicos coniventes? Se a grande empreiteira e o conglomerado de frigoríficos fizeram um estrago desses, será que isso seria tudo? Não. É óbvio que não. Num exercício de imaginação com uma dose de lógica, como seriam as relações das sempre alvissareirasinstituições financeirascom o poder público? Ou esse seria um exercício de lógica com apenas uma pitada de imaginação? Para compreensão dos interesses, necessitamos conhecer os principais interessados.
As condutas
A corrupção, a propina ou os desvios de verbas têm em comum o mau-caráter dos envolvidos. Se roubarem serão desonestos, nem que seja pelo desvio de uma agulha. Honestidade, sabemos muito bem, não é nenhuma virtude. É uma obrigação. Então, para ocupantes de cargos públicos em todas as esferas a probidade é indispensável. Mas muitos políticos desconhecem esse conceito, pois, quando em campanha, alardeiam a sua (pretensa) honestidade. Pouco importa se já nasceram corruptos ou foram corrompidos. Nas duas situações estará em evidência a má-índole.
As peças
Aqueles que seriam bonzinhos ficaram ruins. Os que eram ruins agora são péssimos. A enfadonha discussão entre A e B perdeu o rumo no cruzamento dos culpados. Diante das ratazanas no palco da vergonha, a plateia ficou ambidestra. Nelson Rodrigues não poderia ficar de fora dessa tragédia, apenas para lembrar que toda unanimidade é burra. Então, até queponto issopode ser um risco à própria sociedade?Não sabemos, pois nesse imenso tabuleiro observamos apenas o movimento das peças. Mas ainda não enxergamos quem as movimenta. Vamos aguardar, para saber o quê vem por aí?
Trilha sonora
O filme é de 1970, com música de StelvioCipriani. O tema principal ganhou a bela interpretação de Fausto Pepetti ao sax: Anonimo Veneziano
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