Sem acordo, não haveria denúncia
"Crimes graves: sem acordo de delação dos irmãos Batista, país seria ainda mais lesado”. A afirmação faz parte do artigo assinado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot e que foi publicado ontem pelo Portal Uol. “Três anos após a deflagração da Operação Lava Jato, com todos os desdobramentos que se sucederam, difícil conceber que algum fato novo ainda fosse capaz de testar tão intensamente os limites das instituições. Mas o roteiro da vida real é surpreendente”,diz Janot no começo do texto. O procurador assegura que não teve outra alternativa senão conceder o benefício da imunidade penal aos colaboradores, alicerçado em três fortes premissas: a gravidade de fatos, corroborados por provas consistentes; a certeza de que o sistema de justiça criminal jamais chegaria a todos esses fatos pelos caminhos convencionais de investigação, e a situação concreta de que, sem esse benefício, a colaboração não seria ultimada.
Sistema podre
“Além desses fatos aterradores, foram apresentadas dezenas de documentos e informações concretas sobre contas bancárias no exterior e pagamento de propinas envolvendo quase duas mil figuras políticas. Mesmo diante de tais revelações, o foco do debate foi surpreendentemente deturpado. Da questão central – o estado de putrefação de nosso sistema de representação política – foi a sociedade conduzida para ponto secundário do problemas – os benefícios concedidos aos colaboradores”, escreve.
Decisão
Janot questiona: “Quanto valeria para a sociedade saber que a principal alternativa presidencial de 2014, enquanto criticava a corrupção dos adversários, recebia propina do esquema que aparentava combater e ainda tramava na sorrelfa para inviabilizar as investigações? Até onde o país estaria disposto a ceder para investigar a razão pela qual o presidente da República recebe, às onze da noite, fora da agenda oficial, em sua residência, pessoa investigada por vários crimes, para com ela travar diálogo nada republicano? Que juízo faria a sociedade do MPF se os demais fatos delituosos apresentados, como a conta-corrente no exterior que atendia a dois ex-presidentes, fossem simplesmente ignorados?
Lesivo
Para Janot, Embora os benefícios possam agora parecer excessivos, a alternativa teria sido muito mais lesiva aos interesses do país. “Tivesse o acordo sido recusado, os colaboradores, no mundo real, continuariam circulando pelas ruas de Nova York, até que os crimes prescrevessem, sem pagar um tostão a ninguém e sem nada revelar, o que, aliás, era o usual no Brasil até pouco tempo”, conclui.
Só piora
O cenário político só piorou nas últimas horas. A devolução da mala com dinheiro (era R$ 500 mil, mas foram entregues R$ 465), a prisão de dois ex-governadores e um assessor do presidente Temer,a dificuldade de avançar com a pauta do Congresso e o descrédito absoluto da sociedade empurram o governo para uma situação insustentável. Articulistas de Brasília, buscam uma saída honrosa. O mercado, dono das nossas vidas e destinos, assiste nervoso a tudo, antes de se posicionar. Mas a solução não pode demorar. Se a crise política ainda não afetou a economia real, segundo o professor Julcemar Zilli, poderá atingir se a solução não vier logo.