OPINIÃO

Sobre salas e porões

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Em 1973 o economista Paul Samuelson, do  Massachusets  Institute of Technology, publicou no Economics, livro mais importante do gênero no mundo, um artigo sobre a economia do Brasil e se estabeleceu tão importante a ponto de catapultá-lo a ser o primeiro americano a ganhar o premio Nobel de Economia. O Milagre Brasileiro chamava-se Delfim Neto que, em 4 anos saíra 18 vezes na capa de Veja e foi o caso raro de ministro ser recebido pelo presidente Nixon na Casa Branca, afinal nos seus sete anos de mandarinato (1967-73) o PIB crescera 85% e a renda per capita, 62%. O crescimento previsto em 1973 era de 10%, o cruzeiro se valorizava em relação ao dólar. Hermann Abs, ex-presidente do Deutsche Bank sugerira que a Alemanha precisava de um Delfim Neto. Milton Friedman escrevia que as taxas de crescimento justificavam a expressão “Milagre Brasileiro”. Mas...havia o porão, onde se torturava e matava os inimigos do sistema e a imagem maculada da agressão marcou de forma indelével o coração e mentes de muitos, ao ponto de somente restar o porão e nunca o milagre. Ao fim do “milagre” restou inflação de mais de 100%, concentração de renda, dívida externa quadruplicada e queda de poder de comprado salário mínimo em decorrência da elevação dos juros ao dinheiro emprestado pelos Estados Unidos e pelo aumento do preço do barril de petróleo de 3,37 a 11,25 dólares (informações contidas em A Ditadura Escancarada – Elio Gaspari e Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil – Leandro Narloch). O Milagre Brasileiro e os Anos de Chumbo foram simultâneos. Ambos reais, coexistiam negando-se. Passados mais de quarenta anos, continuam negando-se. Quem acha que houve um, não acredita (ou não gosta de admitir) que houve outro, completa Gaspari.

Os tempos são outros, em vez dos porões, existe o crime organizado, a sociedade civil, mesmo aos solavancos, retomou, democraticamente, ao comando. Em vez dos porões estamos na sala comendo canapés servidos de maneira elegante por simpáticos garçons. Não há mais milagre algum, o PIB chega a ser negativo, o desemprego atinge quase 15 milhões de pessoas sem que se contabilize os que ainda nem desempregados são porque nem conseguiram ingressar no primeiro emprego. Os canapés são preparados numa cozinha da qual não temos acesso, apenas aperitivamos enquanto conversamos sobre reminiscências, futebol e mulheres. Nós, cidadãos comuns, não somos convidados para e aproveitar a grande festa, apenas para pagá-la. Os espertalhões, escolhidos por nós, servem às grandes empresas criadas com a nossa grana e para sustentar o elegante status dos ditos homens públicos, de todos os partidos políticos. Não há ações sociais creditadas como de interesse público que não tenha desvio de dinheiro. Fico confuso em ler que a oposição tenta derrubar Temer. O que é oposição? Oposição a Temer deveria ser quem o levou ao poder, ou seja, quem votou em Dilma-Temer, talvez o pessoal do PSDB. A mixórdia das ideologias cegas e assépticas desvia o foco que deveríamos ter em promover um Brasil melhor e mais adequado a nossos filhos, afinal os canapés trazidos à sala parecem artificiais mas, tem gente que gosta do que é mostrado. É difícil saber que publicação da imprensa é absolutamente isenta ou que não tenha verniz do milagre ou dos anos de chumbo. O que resta, de maneira inegável, é que há dois atores nessa festa: os que ganham e os que pagam, como você e eu. Numa festa de pintos, entramos com as bundas. 

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