O Projeto Literatura em Diálogo realizou mais uma edição na sexta-feira (26). Foi no Teatro Municipal Múcio de Castro e o debate foi sobre a obra “Auto da Compadecida”, de autoria de Ariano Suassuna. O projeto propõe aos participantes a experiência da transposição do texto escrito clássico para outros meios de interação, como teatro e música, por exemplo. Nesta edição, a novidade ficou por conta da oficina temática de isogravura, realizada em parceria com o Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (MAVRS).
O público aprovou a iniciativa, como conta a aluna do Colégio Estadual Joaquim Fagundes dos Reis, Helena Bagatini, que participou pela segunda vez do projeto. “Achei muito interessante o início da abordagem porque mostra primeiro como é a literatura de cordel, identificando as situações que os cangaceiros passam, tudo que se faz muito nordeste e aqui não se tem muito contato. Achei muito interessante trazer isso no início para, no decorrer do diálogo, entender melhor o que se passa”, disse ela. A isogravura foi escolhida por ser uma adaptação da técnica da xilogravura, a qual foi muito utilizada no nordeste brasileiro para a ilustração dos textos da literatura de cordel. Pela isogravura, ao invés da utilização do entalhe de desenhos na madeira, utiliza-se isopor e tinta como matrizes o que se pretende reproduzir.
Aluno no EJA do Colégio Gama, Douglas Gonçalves, conheceu pela primeira vez o projeto. “É a primeira vez que eu participo e acho muito bacana. É mais aprendizado e inclusão da cultura”, afirmou ele.
A atividade foi conduzida pela coordenadora do projeto, a professora Dra. Ivânia Campigotto Aquino, e pela professora do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade de Passo Fundo (UPF), Dra. Ironita Policarpo Machado. “Nesta edição escolhemos esta obra pela representatividade que Ariano Suassuna tem na produção literária brasileira do século XX e nesse gênero literário. Ao representar a cultura popular o autor buscou uma forma conhecida desde a Idade média, que são os autos. O humor que ele coloca é crítico e faz uma leitura do Brasil que, embora produzida na década de 1950, ainda traz problemas sociais eu que são atuais”, explicou ela.
O texto de Suassuna foi publicado em 1955 com toques de humor e comédia, escrito a partir da literatura de cordel, retrata a cultura popular nordestina. Com personagens peculiares, como João Grilo e Chicó, reflete a realidade do povo sertanejo da época, marcado pela religiosidade exacerbada, pela simplicidade, pela miséria humana, pela mesquinharia das pessoas e também pela luta de poder.
Quem faz?
A iniciativa é promovida pela Prefeitura de Passo Fundo, através do Núcleo do Livro, Leitura e Literatura da Secretaria de Educação e da Biblioteca Municipal Arno Viuniski, e pela Universidade de Passo Fundo, através do Curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras. O projeto integra ainda o Programa Ensino e Inovação do IFCH/UPF. Os estudantes de diferentes cursos da universidade ligados à área, em parceria com a equipe da Biblioteca Municipal, auxiliam no planejamento, organização e execução das atividades que serão apresentadas. Os encontros ainda integram a Jornada em Ação, das Jornadas Literárias.
Literatura em Diálogo
O projeto propõe a leitura e a discussão de obras clássicas da literatura no ambiente escolar de todas as escolas de Passo Fundo, sendo voltado para alunos dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. Em um primeiro momento, é realizada a leitura da obra literária na própria escola. Posteriormente, os monitores do projeto fazem a leitura e a contextualização histórica da obra e do autor, a fim de preparar as turmas para a discussão. Por fim, os grupos das escolas participantes se encontram para dialogar com profissionais de diferentes áreas do saber – como Letras, Filosofia, História, Sociologia, Psicologia, entre outras –, que discutem com os alunos sobre diversas questões, em uma reflexão histórico-literária.
O objetivo é o aprofundamento teórico das análises dos textos e o exercício da criatividade prática na abordagem metodológica da leitura. Também são realizadas intervenções culturais, com esquetes, apresentações musicais, dança, encenações teatrais, trechos de filmes e diferentes atividades artísticas para que o público possa viver a experiência da transposição do texto escrito clássico para outros meios de interação. O projeto também acaba envolvendo alunos do ensino superior e a comunidade em geral. A atividade é aberta ao público.