OPINIÃO

Suplente titular da mala

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O medo coletivo que paira entre pessoas comuns, observadores, lideranças comunitárias, e políticos mais conseqüentes, a respeito de pressão à investigação contra a corrupção - existe sim. O temor da impunidade ante a criminalidade sistêmica da desonestidade dos próceres ameaça a própria democracia e assusta até a segurança pessoal do cidadão. Os crimes cotidianos, o tráfico de tóxicos, as chacinas e essa violência que aflige o campo e a cidade pioram, sem a punição ao crime de colarinho branco. A manobra do governo Temer, claramente articulada ao destituir o eqüidistante ex-ministro Serraglio por falta de pressão à  PF, deposita em Torquato Jardim a aposta em socorro urgente. Todos sabem que o magistrado aposentado conhece os escaninhos da investigação e já se rebelou contra a operação Lava Jato. Na conversa de Aécio com e Joelsey (agora delator), foi pautada a vontade de destituir o chefe da PF, que vasculha o ninho tucano. Neste momento, com a recusa de Serraglio em aceitar o ministério da Transparência, o suplente na Câmara Federal, Rodrigo Rocha Loures, terá que voltar pra casa, sem sua mala que devolveu cheia de dinheiro de propina. O ministro Fachin autorizou a ouvida do presidente Temer na Polícia Federal, numa investigação que foi desvinculada do inquérito contra Aécio. Do jeito que está hoje, Temer ficou com a mala, digo, o suplente Loures, que continua titular da mala.

Perante o povo

O novo ministro Torquato é trunfo do governo, que age exprimido como rato em guampa. O prenúncio de manobra rápida, no entanto, precisa enfrentar o olhar da platéia nacional, no propósito de proteger o deputado da mala, prestes a se lançar na delação premiada. A dificuldade na missão de Torquato Jardim é advertida no velho adágio “coram populo” (diante dos olhos do povo). A proteção demasiada ao suplente da mala soa temerária como fragorosa sonegação dos fatos a serem apurados. 

Novos tremores

O ex-ministro Palocci parece cansado e acuado. A imprensa noticia que pleiteia delação premiada. A prisão domiciliar é o prato de lentilha para tenebrosos segredos dos famintos de liberdade. Imagina-se que a detonação seja ruidosa, envolvendo bancos, empresas e Lula.

Jornalismo

As luzernas do jornalismo investigativo volta e meia se apagam, toldadas por interesses que a sufocam. Depois de insistente abordagem sobre a utilização do aeródromo de Claúdio, pela família de Aécio Neves, parece que o assunto será retomado pelo MP. O aeroporto foi construído com dinheiro público em propriedade particular. O jornalista Lucas Ferraz foi pressionado e a denúncia arquivada por duas vezes. As luzes se acendem novamente em tom vermelho, no momento em que o ex-governador de Minas é investigado e afastado do Senado. Não é preciso dizer o que passou o jornalista para reacender a investigação.

Carlos Wagner

O jornalista Carlos Wagner, que fez história séria na ZH, é homenageado no Congresso Internacional de Jornalismo. Não é necessário que o diga, mas foi um dos autênticos repórteres que conheci, em meio a lições de dignidade e capacidade profissional. O momento de angústia pelas verdades em nosso país é propício ao reconhecimento a quem atua com tanta dedicação. Sua simplicidade exagerada não esconde o precioso exemplo de jornalismo que conhecemos em sua caminhada por nossa região e em todo o país. Intransigente no dever de informar era figura de um peregrino errante, colhendo os fatos pelas estradas do interior gaúcho.

Retoques:

  • Enquanto escrevo, recebo o convite para o encontro da Mesa Um do Bar Oasis, no Comercial. O anfitrião é César Nicoleite. Então, a atividade parlamentar da confraria continua dando quórum, como diz o presidente Rui Donadussi.
  • Já ouvi um líder político apostar na continuidade do presidente Temer com base na falta de provas de acusação. “Pariunt montes, nascetur ridiculus mus” (Horácio), apostou.
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