OPINIÃO

Asno coça asno

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Nas alegações finais de defesa, tanto de Dilma como de Temer, houve momento de quase unidade de argumentação. O não reconhecimento das provas de acusação, impertinência de testemunhas e outras teses. Apenas num aspecto a divergência. O defensor de Temer requereu a separação ou desvinculação do processo contra Dilma dizendo-se estranho ao pedido de anulação do resultado, e que não recebeu dinheiro ilegal ou não exerceu abuso de poder econômico. A tese de desvinculação não foi aceita, como as demais preliminares, tanto em relação à ex-presidente quanto em relação ao vice. Durante todo o processo esqueceu-se a relação de traição, atribuída a Temer. Os dois, queiram ou não, para se defenderem, terão que continuar juntos, como acontecia na antiga Roma, originando o conhecido ditado popular “asinus asinum fricat” (um burro coça o outro).

Assusta

Ouvindo narrativas da viúva de Wladimir Herzog e de seu filho Ivo Herzog, sobre o cruel assassinato que cruzou nossa história recente sob o tacão da ditadura militar, sentimos uma sensação de miséria ética pairando no tempo. A depauperada divisão entre esquerda e direita não estremece diante ignóbil memória. Basta que a noite de um processo investigatório tolde a abóbada política para que se instale clima de leniência macabra. É isso mesmo! Bandeiras torpes se erguem para solapar a busca da verdade, diante de um Congresso Nacional covarde, na sua maioria comprometido com o lucro sem escrúpulo. De um lado os que guiam a massa tola dos que pedem a volta da ditadura. Do outro, os que se jactam desta confraria espúria do assalto aos cofres públicos, na pertinácia de esconder a verdade, cegos diante da própria podridão.

Estado que mata

A ditadura militar foi o império da pior facção de extermínio ao agir com a força, poder e dinheiro do estado. Só superada pelos séculos de escravidão no país. Escravatura que a inspirou e ainda predomina nos focos de chacinas, como na fazenda Santa Lúcia, no Pará, onde ocorreu o desgoverno de uma presidência que só pensa em fugir da própria sombra. Massacres de tamanha covardia só prosperam em nome da impunidade. Os crimes dos porões da ditadura não podem prescrever nos registros da história da liberdade. Só a verdade sobre os fatos, com punição é razoável. Verdade e liberdade são valores sagrados dos direitos universais da humanidade que nunca prescrevem. Até o Papa pediu perdão ao mundo pelos casos de pedofilia na Igreja Católica, mas nunca se viu os torturadores da ditadura militar pedindo perdão.

Só a Justiça

O povo brasileiro não merece esperar por uma decisão decepcionante que venha a depender dos deputados e senadores, caso seja provada culpa de Temer. Caso as tenebrosas denúncias sofram a falta de provas ou o perdão dos magistrados, não será o Parlamento Nacional a resgatar a confiança. Ali estão os “cães de guarda”, repetindo o jargão famigerado “chaine de gard”, que defendem a redoma do poder. A resposta do ministro Herman Benjamin, aos perplexos com as cassações de políticos corruptos, traduz um clarão perante a perturbação nacional. Diz que a Justiça deve cassar político que vai contra a democracia.

Retoques:

  • Correta a orientação que aprova ajuda de um salário mínimo a imigrantes refugiados no Brasil
  • O afrouxamento das leis de proteção ambiental, incertezas da reforma trabalhista, e agora se fala na redução de recursos do SUS. Está ficando terrível, rápido demais!
  • O bom desempenho da agropecuária salvou o crescimento do país. Na pressa de angariar prestígio, o presidente Temer esqueceu de São Pedro, o grande colaborador das boas safras. Por pouco não associou o sucesso ao ministro Padilha, envolvido em denúncia por trabalho escravo nas terras que possui.
  • Encerro a crônica em meio ao inusitado julgamento do TSE que decide pela cassação ou não, da chapa Dilma/Temer.
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