Parece que o presidente Temer resolveu por conclusão própria extrair para si uma nova versão a respeito do lamento ético, contido na exortação de Rui Barbosa. Para tanto, bastou uma adaptação admitindo que “de tanto ver triunfar” o absurdo das contradições éticas de recentes decisões no TSE, “eis aí o sinal de que devo permanecer no cargo” – diria. Buscou recortes da bipolaridade de Dom Pedro e emendou seu próprio veredicto: diga a meus opositores que fico! Imagina, ainda, que os estertores de seu envolvimento em denúncias servem até às expressões de Calígula, o tresloucado imperador Romano, que afirmava a seu cavalo Incitatus (nomeado senador) ser possível tudo o que se diz. E reitera, portanto, que fica no poder. E é muito grave observar que Temer está cada vez mais motivado a manter as nomeações temerárias à sua direita de ministros citados em barbáries no trato da coisa pública. Tudo isso, e muito mais, para manter um parlamento a seu favor ao arrepio de graves denúncias.
Caciquismo
O secretário do partido tucano, João Vitor Xavier, diante da decisão de seu partido em permanecer no governo Temer, não economizou comparações. E foi mais longe ao afirmar que permanecer em seu quadro ministerial é persistir com “um cadáver ambulante”. Ficar no poder de Temer é mania de caciquismo que atrasa a história e oportunidade tucana. Na sua opinião a purificação partidária, com eliminação da macha da corrupção, será uma oportunidade perdida de difícil recuperação. Ficou na contramão ao PSDB, que patrocinou a ação de anulação da eleição da chapa Dilma/Temer, participar da bacante vitoriosa na absolvição. É brabo!
Realle
O jurista Miguel Realle Filho, um dos esteios das denúncias ao governo Dilma, abandonou o partido diante da ausência de posicionamento tucano perante a acusação de corrupção que pesam sobre Temer.
Carlos Kiper
Quem teve a ventura de conviver, ser aluno e dividir tarefas com o Padre Carlos Leonardo Kipper, por certo guarda lições importantes. Após vários anos de estudos e dedicação à missão sacerdotal, faleceu segunda-feira e foi sepultado em Passo Fundo. Sua alegria era partilhar enorme saber, com edificante humildade.
Afastamento
A ordem de afastamento de Aécio Neves foi recebida adrede com parcimônia corporativa pelo presidente da Câmara Alta, Eunísio Oliveira. É estratégia subjacente de embrulhar a decisão do ministro Fachin. Está posto um arranhão na história republicana, já que todos os brasileiros entenderam o que significa afastar o senador Aécio do Senado.
Cotas raciais
A Ordem dos Advogados do Brasil obteve decisão favorável no recente processo de declaração de constitucionalidade à lei de Cotas Raciais. A reserva que permite acesso especial aos negros em concursos públicos federais foi plenamente pacificada pelo STF, numa sessão da semana passada, digna de apreço. Algumas discordâncias, que nos parecem mais exotismo de elite cultural, não servem mais para obstar a prática de resgate à oportunidade negada direta e indiretamente aos irmãos negros. Concordo também que seja por tempo determinado até que se consolide o sentimento igualitário, para a felicidade de todos.
O tigre
A trajetória abolicionista, embora muitos momentos ainda desconhecidos na literatura, e tragédias surdas, é a mais sagaz das lutas. Não nos cansa repetir a leitura de Oswaldo Orico, que descreve José do Patrocínio, O Tigre da Abolição. Filho de uma quitandeira e do padre João Carlos Monteiro, Patrocínio fez de sua vida uma tribuna candente, nas ruas e auditórios. Pagou caro diante da opressão e foi heróico. Orador primoroso, descrito por Olavo Bilac com admiração e respeito: “E a raça negra viu aparecer o profeta esperado, o Messias anunciado nas eras, dentro de uma tempestade de raios e de flores, acendendo cóleras, pensando feridas, despedaçando grilhões, fulminando orgulhos, beijando cicatrizes, ateando a fogueira em que se havia de purificar o Brasil”.