A cada acusação grave contra ministro ou assessor especial do governo, volta a apreensão sombria do que possa acontecer. Os brasileiros estão esperando um gesto simples, mas cheio de significado: ética. Uma revelação grave, não claramente afastada, gera o desejo solene de respeito ético relacionado à confiança popular ofendida. No Brasil acontece diferente do que ocorre na Europa. A confiança está relacionada à confiabilidade, ao decoro nos encargos públicos, visto nas modernas democracias. Por aqui falta o escrúpulo cívico, circunstância que exige sensibilidade mais refinada que a comprovação criminal, com provas, malas de dinheiro roubado (a propina), ou depósitos nos paraísos fiscais com dinheiro sujo. Antes de tudo isso, na França ou Alemanha, o ocupante do cargo de confiança pública afasta-se até que tudo seja apurado. A cultura da vergonha mínima exige renúncias diante da menor dúvida, nestas democracias. É a vergonha, que falta aos ministros e senadores que ostentam seus cargos até o fim, ao lado do presidente temerário Temer. Sabem que estão envolvidos, mas também sabem que serão inocentados por um Congresso Nacional capaz de contrapor-se à evidência dos fatos e às provas de corrupção. Não nos iludamos com a possibilidade de condenação de ministros ou do presidente Temer se isso depender dos votos de deputados, travestidos de partidários, mas que são agentes de um conluio de permanecia no poder. Não está escrito em código algum, em codilho algum, como diz o gaúcho, mas o código da pessoa que tem alma, que se chama vergonha na cara. Então, falta vergonha!
Ferraço
Em pleno alvoroço político no Brasil, o presidente Temer faz uma incursão à Russia, maior importador dos produtos da JBS de Joesley Batista, um mega empresário que teve privilégios no Jaburu, mas agora é atacado pelo presidente. Além da conotação hedionda do crime organizado em que a elite política está imersa, as traições marcam as relações de bastidores. O relatório de Ricardo Ferraço, derrotado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, acende o alerta de novas traições. Renan Calheiros orientou a votação. O semblante do presidente na Russia mostra sinais de cansaço, depois de Ferraço.
ON documentário
A iniciativa dos jornalistas de O Nacional, garimpando momentos contemporâneos narrados pelo jornal, defende a importância do quase centenário órgão de informação, como documento para a história. Os relatos lembrados destacam aspectos emocionais ainda palpitantes na comunicação. A existência do jornal no cotidiano, além de privilégio para sua comunidade, é um retrato perene da vida. A vetusta expressão “registros implacáveis”, ganha sentido maior pela trajetória de coragem empresarial e jornalística em publicações diárias. Ao firmarmos memento ao inesquecível Múcio de Castro, desejamos homenagear aos que atuaram e atuam nesta luta pelo jornalismo, nas páginas de O Nacional, força indômita preservando a memória.
Retoques:
- A confraria da Mesa Um do Bar Oasis será recepcionada nesta quinta-feira pelo Neco Tratores, no Clube Comercial, afinal, o frio exige uma resposta!
- Parece que a representação do presidente contra seus acusadores, dizendo-se difamado, deu com os burros n’água! Ainda mais que a honra, honradez e ética no seu exercício presidencial não é o aspecto mais forte de quem se diz ofendido. Cortina de fumaça!
- Na Russia não funcionaria a lei Maria da Penha. As agressões familiares, especialmente à mulher, são consideradas toleráveis. Curioso é saber que o alto índice de alcoolismo dos russos contribui para essa estranha aceitação.
- Palavras curiosas. A palavra POSTULADO, quer dizer, pedido ou demanda. Sua homófona – PUSTULADO, quer dizer coberto de pústula, de feridas. No caso, todo o cuidado é pouco com o vocábulo.
- Os juristas e julgadores ensinam que o caixa-2 light, sem origem de corrupção pode ser punido na condição de crime com menor potencial ofensivo, com suspensão condicional da pena ou pena alternativa. A propina é mais grave.