OPINIÃO

Quinta de sol e inverno

Por
· 1 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Porque já a chuva terminou e o céu agora está azul para nós dois (Os Caçulas, há mais de meio século). Aproveitei essa quinta para dar uma passeada na Gare, maravilhosamente pensada para o lazer. O sol das quatro convidava a laranjas e bergamotas, por que não? Dizem por aí que o médico é um profissional liberal; só se isso se aplica aos demais colegas porque nem lembro a última vez que me permiti ao simples desfrute de uma tarde de semana qualquer. A vida é curta e se não é possível encompridá-la devemos alargar o possível, em outras palavras, acrescentar momentos inesquecíveis ao cotidiano.

Um conhecido teve fratura exposta de femur e necessitou ficar fora de combate por um periodo longo. Vi-o sentado em uma cadeira de rodas numa manhã de domingo a lamentar o fato de não poder correr pela Avenida Brasil. Lembrei-me de que de 2003 até hoje nunca tive a oportunidade de vê-lo correr. Isso acontece também com as pessoas com quem convivemos. Subitamente elas vão embora e lamuriamos a partida sem despedidas. Deveríamos ter aproveitado muito mais e não o fizemos. Somente quando se perde é que se valoriza o que não é mais da gente.

Já tive algumas aventuras pueris como, por exemplo, ter sido o primeiro torcedor a adentrar ao Estádio Wolmar Salton num jogo de futebol no ano de 1984. Também fui o último a sair do Vermelhão. Por que fui o último? Porque estava com saudade de meu velho pai e foi ali, naquele estádio, que ele me levou para assistir um jogo entre 14 x Esportivo, em 1970. Ao permanecer mais tempo senti-me mais ligado, mais próximo e muito enternecido pelo velho ter me presenteado com esse mimo, mesmo simples mas, tão expressivo da nossa harmoniosa convivência.

Gosto das palavras, gosto do momento e entonação certos. Todos temos agradecimentos a fazer a estranhos-próximos em determinado momento. Quando surge a oportunidade costumamos expressar: jamais vou esquecer aquilo que tu me disse quando eu mais precisava ouvir. E essa forte lembrança-agradecimento estampa quanto as nossas vidas são carentes de momentos simples-impactantes. Ao caminhar pela Gare, ao sol da tarde, agradeci em pensamento a todos os que encheram minha vida de momentos agradáveis e prometi-me permanecer vigilante para que nunca interrompa aquilo tudo que me permito fazer às pessoas de meu entorno. O céu agora está azul para todos nós, mesmo para os que sofrem e não encontram consolo.

Gostou? Compartilhe