Na linha de escoima, do denunciado presidente Temer, surge investida de marketing aliada ao direito de defesa. A denúncia por crime de corrupção passiva, apresentada pelo procurador Rodrigo Janot, que pede sua condenação, enumera prova periciada e depoimentos pessoais de delatores. E Temer irrompe do armário que escondia suposta fleuma diante das terríveis acusações que recebe. A fase de pasteurização de suas sempre perigosas relações com o crime organizado, misturada ao andar paciencioso em trilhas vicinais do “iter criminis” acabou definitivamente. Diante das pesadíssimas denúncias no mundo da propina tomou pessoalmente o báculo da defesa, seguindo antolho da expressão usada no direito francês, “n’y a pa possibilité de defendre sans attaquer” (não há possibilidade de defender-se sem atacar). Abortou a etapa. Valeu-se de estratégia perigosa de quem vive estertores de acusação. Ao lançar aleivosias contra a pessoa de Rodrigo Janot, decide apostar em efeitos de impacto com suas declarações que visam plantar dúvidas contra o procurador da República. Não se há de subestimar sua ousadia se considerarmos a posição de supremo mandatário do país.
Gravação
Desde o primeiro momento em que explodiu o escândalo com a delação premiada de Joesley Batista, surgiu a versão apressada do perito particular, Ricardo Molina. Contratado pela defesa de Temer insiste em parecer para contrapor o trabalho da perícia oficial que atesta inexistência de edição ou fraude nas gravações. Molina parece jogar para a torcida governista ao dizer que a gravação é imprestável como prova de acusação. Cita as dezenas de interrupções. Para qualquer profissional leigo, um repórter que usa gravador comum, é conhecido o dispositivo automático que, acionado, desliga no intervalo de silêncio. Religa quando o volume da conversa ativa o automático. O dispositivo era conhecido como “level control”, sistema semelhante ao relé que liga e desliga o aparelho. Molina mencionou a normal interrupção com insinuação de falsidade, ou manipulação. Na verdade sabe que a interrupção é normal e deveria explicar isso na sua versão. Adotou parecer sub-reptício.
Revelações
A perícia oficial, que era aguardada como chance de defesa, após dias de trabalho, revela novas facetas do diálogo macabro do Jaburu. Além de confirmar autenticidade da gravação, resgatou novas e gravíssimas revelações para a peça de acusação. O presidente esperava defeitos, mas foi confirmada a clareza da prova.
Há malas que vêm para o bem
A cena protagonizada por Rodrigo Rocha Loures (o íntimo), mais do que um trotar hilário, ao carregar a mala de propina em criminosa partilha, transformou-se em vergonha mundial. Esta evidência é prova escancarada demais. Ridículas são as explicações dos beneficiários da propina milionária. Se é difícil provar este tipo de crime, onde são utilizadas as farsas mais ardilosas, no caso há malas que vêm para o bem da verdade.
Autorização
Para que o Supremo Tribunal Federal possa julgar a denúncia, é necessária autorização do Congresso. E, hoje, Temer tem votos para rejeitar a autorização para processar o presidente. Ali, minha gente, é tudo farinha do mesmo saco. “Eiusdem furfuris”, como já se dizia no Império Romano.
Mobilização
A OAB Nacional já se manifestou pelo impeachment e opina pela renúncia de Temer. Pelo visto, só uma mobilização muito forte do povo poderá pressionar os deputados a aprovarem o processo de cassação no Supremo. Câmara Federal e Senado, que queremos de ilibados defensores do povo, hoje formam um poder contaminado pela corrupção. Dificilmente haverá 342 votos a favor da lisura no Parlamento brasileiro.
Retrocesso
Nas alegações de Temer e seus acólitos é citada a necessidade de preservar o prestígio do governo. A hora, no entanto, é grave demais. O essencial, no entanto, é salvar a sociedade e os direitos sociais, onde se inclui a confiabilidade de quem governa. Retrocesso é parar a democracia que pressupõe justiça.