Não é somente na agricultura que as condições climáticas das últimas semanas geram preocupação. A falta de chuva e a troca abrupta de temperatura fazem com que muitas pessoas contraiam gripes, resfriados ou tenham crises alérgicas. Outro fator inquietante é a baixa umidade relativa do ar, que não passou de 30% nesta semana em Passo Fundo. Para a Organização Mundial da Saúde, índice de umidade entre 21 e 30% é considerado como estado de atenção, por não ser adequada à saúde humana e contribuir para a ocorrência de complicações alérgicas e respiratórias devido ao ressecamento de mucosas, sangramento pelo nariz, ressecamento da pele e irritação dos olhos.
Na Emergência dos hospitais do município, a procura por atendimento cresceu de maneira significativa, principalmente nos casos de doenças respiratórias. Somente no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), o atendimento aumentou em 30% em comparação com os meses de verão, e estima-se que cerca de 20% do total de atendimentos emergenciais (a média é de 210 atendimentos por dia) está relacionado a doenças do sistema respiratório. No Hospital da Cidade (HC), a situação não é diferente. Segundo a enfermeira da Unidade de Emergências Médicas da instituição, Cleusa Oliveira, cerca de 150 pacientes são atendidos por dia no local. “O número, de modo geral, não aumentou tanto. O que muda é o tipo de atendimento realizado. Com o frio, a maioria dos pacientes atendidos apresentam problemas respiratórios. Tivemos um aumento bastante grande por conta das alergias, principalmente nos dias mais quentes”.
Pneumologista do HSVP, Vinícius Dalmaso explica que a mudança brusca de temperatura afeta diretamente os pulmões e faz com que pessoas com baixa imunidade, ou que já tenham problemas respiratórios, fiquem mais suscetíveis a crises e exacerbações da doença. “A maioria dos pacientes que procura atendimento já tem alguma alergia – quadro de rinite, bronquite, asma – ou então alguma doença crônica de pulmão e coração. Elas acabam tendo uma descompensação do quadro”, explica. Ainda de acordo com o médico, o principal cuidado, no caso de quem já faz uso de remédios, é manter o uso regular de medicação. Segundo ele, é muito comum que as pessoas interrompam a medicação quando percebem uma melhora, e esse comportamento pode dar brecha para o retorno da doença.
Entre outras dicas, Dalmaso destaca a importância de evitar o tabagismo, que é uma das condições que mais afetam os casos de problemas respiratórios, e de prestar atenção no aparecimento de sintomas como febre, secreção amarelada, falta de ar, respiração rápida e queda no estado geral. Além disso, é fundamental procurar avaliação médica assim que os sintomas forem percebidos, especialmente se o paciente tiver problemas de saúde recorrentes. De acordo com a enfermeira Cleusa, o principal fator que leva à lotação das emergências é a procura tardia pela ajuda médica. “Na maioria das vezes são pessoas idosas que nos procuram somente quando o caso já chegou a um estágio mais grave. Isso faz com que elas fiquem mais tempo na emergência e, às vezes, ainda tenham que ser internadas”.
Evitando a transmissão
Quando se trata da gripe, é muito comum que o vírus seja transmitido para diversas pessoas de um mesmo círculo de convívio. Isto porque se trata de um vírus facilmente transmissível por meio de gotículas de secreção que chegam às vias respiratórias pelo ar. Por isso, o pneumologista faz alguns alertas. “Primeiramente, a gente sempre reforça a vacinação, porque há uma grande parcela da população que ainda não se vacinou, e ainda dá tempo de vacinar. Fora isso, principalmente quem está exposto por não ter feito a vacina, deve evitar a aglomeração de pessoas, preferir ambientes arejados, sempre estar com as mãos limpas para evitar o contato e a transmissão do vírus e se hidratar bem”.
Alimentação
Uma alimentação saudável, baseada em alimentos naturais e que inclua um alimento de cada grupo, aliada à prática de exercícios físicos, é um dos principais fatores que contribuem para o fortalecimento da imunidade, segundo a nutricionista Marina Seady. “Existem alguns alimentos que têm sido apontados recentemente como alimentos bem poderosos, falando na parte anti-inflamatória e antioxidante. O gengibre e a cúrcuma são os que estão mais em evidência. Quanto mais tempo a pessoa dedicar à alimentação durante a vida, mais ela vai fortalecer a imunidade e menos eventos como gripes e outras doenças respiratórias ela vai ter”.
Durante o tratamento de alguma doença respiratória, o ideal é dar atenção à ingestão de vitamina C e de uma quantidade adequada de ferro. “A vitamina C é uma importante vitamina antioxidante e o ferro é um alimento importante na hemoglobina, que é a proteína que transporta oxigênio. Então, para estar funcionando bem esse transporte de oxigênio, a gente tem que dar ao nosso corpo fonte de ferro. E uma coisa que ajuda a fixar o ferro depois de consumi-lo, é consumir a própria vitamina C. Então dá para juntar essas duas coisas. Fazer uma refeição com boa fonte de ferro e depois tomar um suco de laranja, por exemplo”.
A nutricionista explica ainda que, embora no inverno as pessoas não sintam tanta sede, a hidratação é muito importante para não ressecar as vias aéreas e para manter o bom funcionamento do corpo. “Não sentir sede não significa que nosso corpo não está precisando de água. No inverno, a dica é apostar nos chás”. Quanto à quantidade, ela esclarece que o ideal é levar em consideração o peso – cerca de 25ml por quilo. “As pessoas normalmente falam em dois litros por dia, mas é complicado, porque uma pessoa idosa, por exemplo, não sente tanta sede, então vai estar forçando uma coisa que não é comum pra ela”.