A pior conseqüência do desastre político da Venezuela é a falta de alimento. Gestores, que se dizem estado, defendem uma estrutura ideológica perversa que envergonha a democracia. A questão logística de alimentos já rondava a Venezuela em meio à crise do petróleo, com sucessivos rebaixamentos de preço no marcado internacional. A censura do governo Maduro contraria o estado de direito de um país que não merece tamanha crise. Hugo Chávez exibia manobras ditatoriais, mas tinha a seu lado uma multidão que participava da luta nacionalista. O custo expropriatório das empresas petrolíferas não assolava a subsistência do povo, como acontece hoje. E fome é o maior absurdo político. Como a Venezuela vai mudar o governo para inverter o retrocesso social de Maduro, sem retornar ao processo entreguista da produção do petróleo, eis a questão! Mas a fome é a mais imoral das prisões. É a crueldade que massacra velhos e crianças. O abismo sociológico impede a liberdade, quando a única opção para sobreviver dignamente significa assomar-se ao partido oficial. Dupla fome. Não há liberdade de barriga vazia. É possível que o esgotamento do governo dito bolivariano possa levar a nação de grande potencial a soluções pacíficas e com a necessária lucidez de lideranças que se aproximem do povo sofrido. A Venezuela vive dolorosa lição histórica, mas ainda pode constituir nova força para governar sem entregar suas riquezas aos estrangeiros, como hoje faz o Brasil.
Alerta Brasil
Além do abismo social, com poucos ganhando muito e cada vez menos gente em condições de sobrevivência, assustam alguns dados sobre o crescimento da miséria. Esgotou-se a faixa de acomodação de desempregados que se jogavam em pequenos empreendimentos. Decresceu o emprego temporário e encurtou a média de remuneração. É claro, o cobertor encurtou pra o pobre. E isso se deu em forma de abismo, como adverte a expressão secular “abyssus abyssum invocat” (o abismo chama abismo). Portanto, alerta Brasil, que a fome apressa a ira popular.
Combustível
Com todo o respeito à comoção geral das pessoas, a repercussão do aumento do combustível é foco de sensibilidade. Falamos aqui, no comparativo com outras questões muito mais graves que a gasolina. Está faltando recurso de governo para a pesquisa científica; qualidade dos alimentos, para os programas de universidades públicas, para escolas básicas, segurança e moradia. Mais ainda, a miséria está voltando. Eis aí o imperdoável, da fome e desabrigo. Recente levantamento revela que a faixa assistida de seis milhões de pobres sofreu rebaixamento à miséria. Este é o mal maior, porque inclui a fome! É imoral!
Trabalho escravo
Há redução de recursos num dos setores mais urgentes da justiça social: o combate ao trabalho escravo. Além da exploração criminosa de trabalhadores estes focos de violência concentram atividades predatórias ao meio ambiente em regiões mais remotas do norte brasileiro. Fiscais do Trabalho acusam o golpe que reduz recursos em 70%.
Compra de votos
Enquanto Temer arrocha o povo com impostos afaga deputados indecisos em liberações perdulárias. Parece um jogo sinistro em escalada. Faz isso para não se submeter a um julgamento no Supremo, a um custo social e financeiro assombroso. Não basta que seja legal, tem que ser também gestão moral.
Retoques:
- Mais uma etapa da operação Zelotes aponta corrupção envolvendo ex-auditor da Receita Federal e BankBoston. Durante muito tempo os bancos esconderam subornos que prejudicam o país, não bastassem outras formas de lucros exorbitantes.
- Tivemos o privilégio de lermos a obra de Mário Sérgio Cortella e Gilberto Dimenstein - A Era da Curadoria. Foi presente do Dr. Rui Donadussi, nosso vitalício presidente da Mesa Um do Bar Oasis. Aliás, hoje tem encontro no Clube Comercial, com a recepção do nosso confrade, empresário Júlio Mumu, como é chamado pelos amigos mais chegados. Quanto ao livro, é recomendação preciosa.