Escritora, amiga, mulher, mãe. Ao mostrar as diferentes facetas de umas das escritoras mais aclamadas da literatura brasileira, a exposição busca a diversidade para que o público possa conhecer um pouco mais quem foi Clarice Lispector, homenageada pela 16ª Jornada Nacional de Literatura com o Espaço Lendas Brasileiras. A atividade também integram as atividades da Jornada em Ação.
As pessoas que passam pela Biblioteca Pública Municipal podem não só contemplar a exposição, mas assistir a rara entrevista de Clarice concedida em 1977 ao repórter Júlio Lerner, da TV Cultura, divulgada apenas após a sua morte, que ocorreu no mesmo ano da entrevista, a pedido da escritora, assim como ler os livros, cartas e conhecer um pouco mais de seu mundo.
A iniciativa é do projeto Literatura em Diálogo, coordenado pela professora Dra. Ivânia Campigotto Aquino, coordenadora de Inovações Educacionais do município e professora de Literatura da UPF. O projeto é uma parceria entre a Prefeitura de Passo Fundo, por meio do Núcleo do Livro, Leitura e Literatura da Secretaria de Educação, coordenado pela professora Suzana Einloft, que também organiza as atividades da Biblioteca Municipal Arno Viuniski, e a Universidade de Passo Fundo (UPF), através do Curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras, integrando o Programa Ensino e Inovação do IFCH/UPF.
A composição da exposição veio de muita pesquisa e da busca em trazer um cenário mais próximo da realidade. “Encontramos um texto com fragmentos de uma conversa entre Marina Colasanti e seu marido, Affonso Romano de Sant'Anna, falando sobre a relação de amizade com Clarice. Havia relatos de quando eles conheceram Clarice, além da descrição de algumas partes da casa dela, como uma janela que dava para rua, a parede com fotografias e desenhos, muitos livros empilhados em cadeiras e o cachorro nada simpático chamado Ulisses. Descobrimos também que Clarice adorava galinhas”, explicou a estagiária do Núcleo do Livro, Leitura e Literatura, Lissara Kaiuane.
Ao lado de Lissara, a bolsista Paidex, Gislaine de Oliveira de Almeida, também trabalhou na construção. “Utilizamos muito o Instituto Moreira Salles do Rio, que tem um grande acervo sobre Clarice. Achamos fotos, trechos de textos e cartas trocadas entre familiares, seu marido e amigos, como Caio Fernando Abreu e Fernando Sabino. “Disponibilizamos alguns destes materiais aqui na exposição para o público conferir”, finalizou ela.
De origem ucraniana, Clarice veio para o Brasil com poucos meses de idade e se considerava uma brasileira de origem. O gosto pela literatura surgiu ainda quando era jovem, logo que aprendeu a ler e a escrever. Com o passar dos anos, sua escrita voltada ao olhar interior ganhou cada vez mais força, sendo referência para consolidar a prosa intimista no Brasil.
Para a coordenadora do projeto, a professora Ivânia, a exposição aproxima Clarice, tido por muitos críticos como uma escritora hermética, do público. “As pessoas passam a conhecer melhor a grande escritora que afirmou o gênero intimismo ao mergulhar, profundamente, no íntimo das personagens e nos trazer narrativas com temas que possuem transcendência, por serem daquelas experiências humanas que fazem o leitor perceber que está revelado no texto, que se reconheceu nas ações e pensamentos das personagens”, disse ela.
A exposição fica aberta ao público até a 16ª Jornada nacional de Literatura, que acontece de 2 a 6 de outubro de 2017. A Biblioteca Municipal fica localizado na Rua Morom, 2019, no centro da cidade. O horário de atendimento ao público é de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h na parte da manhã e das 13h30min às 17h30min na parte da tarde. Aos sábados, o espaço também é aberto à comunidade 8h às 11h30min.
Jornada
Em 2017, a Jornada Nacional de Literatura, que sempre teve como característica principal dialogar com a atualidade, se abre também para homenagear a tradição. Por isso, a 16ª edição da movimentação literária, que acontece entre os dias 2 e 6 de outubro, volta seus olhares a quatro grandes escritores brasileiros: Moacyr Scliar, Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector, contemplando sua trajetória e as obras que marcaram suas carreiras.
O primeiro fator que motivou a escolha dos escritores como homenageados foi o fato de o ano da Jornada estar relacionado ao nascimento ou ao falecimento desses autores. Moacyr Scliar e Ariano Suassuna nasceram em 1937 e em 1927, respectivamente. Já Drummond faleceu em 1987, enquanto Clarice faleceu em 1977. “Essas datas são importantes para nós, mas mais importante do que isso é alicerçar a literatura contemporânea à tradição”, destacou o coordenador da Jornada Miguel Rettenmaier.
O Espaço Lendas Brasileiras, Clarice Lispector é uma homenagem à autora, falecida em 1977, ou seja, quatro décadas antes do ano de edição da 16ª Jornada de Literatura de Passo Fundo. É composto por quatro lonas com nomes alusivos às personagens de lendas brasileiras transcritas por Clarice Lispector na obra Como nasceram as estrelas (1987): Tenda Yara, Tenda Malazarte, Tenda do Negrinho do Pastoreio e Tenda do Curupira. Esse espaço está reservado às atividades da 8ª Jornadinha Nacional de Literatura.