A expressão “o crime não compensa”, nunca foi dita nos palácios, nas ante-salas do poder político, e muito menos nos sistemas vetustos implantados com as capitanias brasileiras, nos engenhos de açúcar ou nos cafezais. Ou melhor, nunca foi ouvida tal advertência, porque sempre é dirigida a infratores da ralé. E seria a primeira invocação obrigatória, antes dos juramentos fictícios, nas reuniões ministeriais, no Congresso Nacional e nas cortes judiciárias. O problema é que a dicção, em tom mandamental, é o grito ampliado e pressuposto dirigido aos escravos antigos e perpetuado hoje ao povo humilde. Para estes se diz que o crime não compensa, como diziam os senhores de escravos aos descendentes africanos subjugados e dizimados, enquanto a nação privilegiava uma classe que enriquecia na opulência com o trabalho forçado de irmãos negros. O crime mais temido pelos senhores era a fuga de escravos em busca do maior dom da vida, a liberdade! “Mutatis mutandis”, o estado policialesco só existia contra os pobres. Hoje, a difícil apuração dos crimes de colarinho branco acontece como atitude oficial inédita. Esta é a novidade de um momento histórico que não deve retroceder.
Mordaça
O presidente Temer intenta no STF a suspeição do procurador Rodrigo Janot. O pedido será julgado pelo ministro Edson Fachin. A iniciativa despudorada do Planalto é para impedir novas denúncias. E isso tudo acontece após várias reuniões particulares entre Gilmar Mendes e Temer, na véspera de nomeação da nova procuradora Raquel Dodge. Querem fragilizar o Ministério Público, constrangendo-o de alguma forma. Espécie de mordaça. Tanto que a matéria divulgada fala em conter denúncias contra os presidentes. Será que o PMDB e o PT voltaram a convolar núpcias? A traição pode ser superada, já que a noite do desespero é igual para os dois! Estranhamente atacam a pessoa de Janot.
Contrição tucana
Parece que o PSDB assume sua culpa publicamente em chamada à reflexão sobre seus rumos. Não se descarta jogada de marketing, mas o reconhecimento dos erros mais recentes, pelo envolvimento em episódios de corrupção por seus líderes, pode ser bem visto. Tucanos fazem o que os petistas poderiam ter dito sem tibiez. É preciso pressa na busca de credibilidade. E parece que um setor do tucanato cansou os braços que seguravam Temer. A luta pelo resgate moral dos partidos não conta com a força dos barões da mídia. Por isso depende de sua própria criatividade.
Socialistas
A saída do senador Romário do PSB, incorporando-se ao Podemos de Álvaro Dias desfalca os socialistas. A nova sigla anuncia reforços e se declara contra Temer. O PSB que ficou dividido em relação ao processo contra o presidente peemedebista perde grande parte de sua bancada federal porque foi lerdo.
Passo Fundo
A par de suas lutas para superar dificuldades da era urbana, nossa Terra é exuberante por natureza. Entre a preocupação com as prestações que pendem de minha modesta moradia, olhei o horizonte. A expressão romana “ocasu soli” (o cair do sol) me parecia melancólica. Por isso resolvi ver mais longe. O que vi de minha janela foi algo esplendoroso. A tarja vermelha riscou o azul celeste e foi crescendo, mais e mais. Formou-se imenso contraste denso, numa cinta rubente horizontal. Insuperável dádiva da natureza no céu de minha terra, espetáculo gracioso. O cenário formou-se e rapidamente de desfez, formando estendais de mantos estrelados. Num lampejo, imaginei tudo o que aqui se fez e se faz: as mãos dos operários construindo, o agricultor plantando, mães e pais criando seus filhos; vi imagens de muitas artes, vi a Igreja de São Miguel, pessoas lutando por liberdade; vi suas águas nascentes, os quadros de Miriam Postal e os dedos de mestre Davi Reginatto teclando gaita e ouvi vozes de crianças correndo em gorjeios sublimes. Passo Fundo, 160 anos!