OPINIÃO

Anestesia geral

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É intrigante essa apatia geral da sociedade cívica brasileira perante a necessidade urgente de apuração de denúncias graves no centro do poder. Um dos fatores que restou alterado é quanto ao repúdio popular. Com a redução considerável do clima ruidoso na mídia, logo após a condenação de Lula, a impressão repassada aos consumidores da informação é de mera transitoriedade, e reconsideração da ansiedade punitiva. A recente acusação grave contra mais um ministro de Temer, Blairo Maggi, por suposta corrupção, completa uma lista sem precedentes de envolvimento do primeiro escalão do Planalto. Isso, sem contar que o próprio presidente é acusado em grau gravíssimo. As pesquisas apontam queda vertiginosa de prestígio do governo do PMDB, e nada mais. A idéia repassada não é de indignação, uma vez que salienta apenas eventos pontuais de ajuda governamental que se dirigem ao único objetivo de blindar a figura do presidente. Uma coisa é certa: é impossível verificar-se queda de aceitação do governo, que já caiu demais. Esgotou!

Trump e Venezuela

Verdadeiro tormento abala o povo venezuelano com o despotismo de Maduro. A preocupação do presidente Trump, dos Estados Unidos não é novidade. Quer o que sempre quiseram os americanos, ou seja, o petróleo venezuelano. O problema do governo de Caracas é alimento e produtos de subsistência, em meio à inflação dramática. Para nós brasileiros a situação cria mais uma cortina de fumaça e deixamos de enxergar o mostro do desemprego que ruge em nosso quintal.

Maniqueísmo em rede

A truculência pragmática eleitoral ganha ênfase no vazio de opções da própria política partidária. Temos um paredão de culpados onde muitos são arremessados sem prévio julgamento democrático, apenas por uma suposta coloração. Se alguém defende creches públicas, saúde pública, cotas raciais, habitação ou distribuição de terras, cuidado! Lá vêm os maniqueístas dizendo que é comunismo. E essa idiotice coletiva cria um contágio em rede, com enorme expressão nas redes sociais.

Os tetos salariais

Além do desemprego galopante, o desdém pelos programas sociais na redistribuição de renda compromete mais ainda essa fenda em abismo das diferenças. Fala-se no teto salarial das castas do poder, como se isso fosse um ato de caridade aos mais pobres. Esse tom de generosidade para com a grande maioria aflita no país, além de fingido não é factível o suficiente. O direito adquirido de remuneração e vantagens do alto funcionalismo parece ser o único fadado à irredutibilidade. As renúncias fiscais, gratificações e ricas vantagens são cada vez mais intocáveis. Assim não dá!

Raízes conservadoras

Ainda estamos em meio à leitura da obra do jornalista Juremir Machado da Silva, Raízes do Conservadorismo Brasileiro – A Abolição na Imprensa e no Imaginário Social. Temos a sensação de haver encontrado uma fonte preciosa de respostas a várias inquietações que nos afligem em consultas a autores que falam sobre a abolição. Com propriedade, Juremir demonstra claramente que o a lei da abolição, em 13 de maio de 1888 não foi mero ato burocrático assumido por bondosos representantes usineiros ou mandantes da aristocracia. Foi o resultado de ações dos valorosos líderes negros e brancos, alguns sofrendo desterro social e até o sacrifício pessoal, incluindo-se a morte e tortura. A imprensa exerceu papel importante e heróico como se constata na luta de vários jornais da época. A mídia cultivava com muito maior presença a causa da liberdade, ainda que negada por forte aparato publicitário. A Igreja amarga acordos repugnantes com estado escravista. Impressiona a revelação do papel deprimente de José de Alencar, escritor clássico e talentoso, mas de péssima reputação social pelo apego à submissão de escravos em alegações sub-reptícias, como deputado. O 13 de maio marca a maior revolução social da história brasileira, que foi imolação de vidas que produziram riquezas no país. Falaremos mais sobre esta obra. 

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