Comunidade reivindica atenção às praças dos bairros

Fora da região central do município, lâmpadas queimadas e brinquedos enferrujados espalhados pelos espaços públicos de lazer deixam na população a sensação de invisibilidade

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Nos bairros Vera Cruz e São Cristóvão, moradores contam quem aguardam a revitalização das praças há anosNos bairros Vera Cruz e São Cristóvão, moradores contam quem aguardam a revitalização das praças há anos
Nos bairros Vera Cruz e São Cristóvão, moradores contam quem aguardam a revitalização das praças há anos
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O portão está aberto e duas crianças andam no balanço. Uma mulher come um lanche do outro lado da cerca, em um dos bancos de concreto sem encosto. Duas amigas conversam em cima do brinquedo enferrujado. Cada uma destas cenas aconteceu em uma praça diferente de Passo Fundo, em dias aleatórios. As crianças, a mulher e as adolescentes estão em locais públicos dos bairros São Cristóvão e Vera Cruz. O cenário, no entanto, poderia ser visto em qualquer outro bairro de Passo Fundo, onde as praças existem, mas o banco não possui encosto, o brinquedo não tem conserto e um dos balanços está quebrado. Em outros bairros, o que se descobre é um terreno vazio, que há muito tempo espera abrigar um espaço de lazer para os moradores da região. Situação encontrada porque, talvez, a comunidade não tenha tido a sorte de ter se formado, ao redor do local, o centro da cidade.

Enquanto ações de revitalização de espaços públicos têm sido desenvolvidas nas áreas mais centrais da cidade, nos bairros, o que deveriam ser locais coloridos, se tornam acinzentados, à medida que as camadas de tinta descascam e deixam por ali uma impressão de abandono, que muito contrasta com a realidade – esses espaços não foram esquecidos pela comunidade, muito pelo contrário. No bairro Vera Cruz, por exemplo, é possível ver, diariamente, dezenas de moradores que ocupam a praça, apesar das condições precárias. O abandono, que causa na comunidade a sensação de invisibilidade, é por parte do poder público. Moradora do bairro desde os quatro anos de idade, Daiane Santana costumava frequentar a praça desde a infância, quando o pai a levava para se divertir nos brinquedos. Agora, aos vinte anos, ela conta que tem deixado de frequentar o local. “Essa praça é o lugar mais acessível para quem mora no bairro, para encontrar algum amigo no fim de semana, tomar um chimarrão... Mas é como se ela tivesse sido esquecida, parece que só os pontos do Centro ganham atenção e são revitalizados”, desabafa. “Eu passo pela praça quase todos os dias e, principalmente no fim de semana, ainda vejo muitos pais trazendo os filhos pra brincar aqui, mas faz algum tempo que todo mundo tem um certo receio, porque é muito fácil mais um brinquedo desses quebrar enquanto uma criança está brincando”.

A situação é semelhante na Praça da Rua Manuel Portela, localizada no bairro Petrópolis, aos fundos da Prefeitura de Passo Fundo. O espaço, que poderia servir como ponto de diversão para as crianças, tem apenas alguns brinquedos quebrados, sofre com a falta de iluminação e não tem qualquer proteção ao seu redor. Presidente da Associação de Moradores da Vila Annes e temporariamente responsável por representar o interesse de quem mora nas redondezas da Rua Manuel Portela, Alessandra Moreira conta que um pedido de revitalização já foi feito, mas a comunidade ainda aguarda resposta. “Eu já encaminhei uma solicitação para que sejam feitas melhorias, mas não sabemos se algo será feito. Algumas pessoas usam os brinquedos quebrados até pra amarrar cavalos e, como ali é tudo aberto e falta iluminação, também é comum a questão do vandalismo”.

Em outros bairros, como o Jardim América, Santa Marta, Vila Annes, Vila Jardim e Donária, as praças não são invisíveis – elas simplesmente não existem. Alessandra Moreira conta que, na Vila Annes, não há uma área disponível, que pertença à Prefeitura Municipal, onde a praça poderia ser construída. “Até há um terreno da prefeitura, mas solicitamos que lá seja feita uma Escola de Educação Infantil, porque também não temos nenhuma. Há uma grande solicitação de uma academia ao ar livre aqui na Annes, o que também não é possível, porque a gente dependeria de ter esse espaço público para que ela fosse instalada”. No caso da Donária e da Vila Jardim, o terreno público existe, mas se resume a um completo vazio, apesar das solicitações da comunidade. “A gente deu uma ajeitada no terreno, iluminamos e pedimos para a prefeitura que fosse construída uma praça e uma academia ao ar livre, mas até agora nada. A comunidade não tem nenhuma opção de lazer”, lamenta o representante da Vila Jardim, Milton de Camargo. Assim, a única solução que os moradores encontram é ir até alguma praça no centro da cidade, onde a realidade parece ser bem diferente e muito mais agradável.

Município está ciente da demanda por melhorias

Embora os espaços de lazer localizados em bairros afastados do centro da cidade pareçam invisíveis aos olhos do poder público, a secretária de Planejamento de Passo Fundo, Ana Paula Wickert, nega que haja descaso por parte da prefeitura. Ela garante que o município está ciente da situação constatada nas áreas públicas de diversos bairros – tanto pela necessidade de revitalização das praças existentes, quanto de construção nos locais onde as praças nem mesmo existem. “Desde 2013, a gente tem implantado um projeto de qualificação dos espaços públicos, como praças e parques, porque sabemos da importância destes espaços verdes na qualidade de vida do cidadão e do benefício para a saúde física e psicológica dele, e também por serem áreas de integração sociocultural onde se fomentam as relações entre grupos. A Secretaria de Captação de Recursos tem encaminhado diversos pedidos para implantação de áreas verdes e alguns projetos já foram deixados em Brasília para conseguir recursos federais”, explica. Ainda segundo ela, a pasta tem se dedicado especialmente ao desenvolvimento de um projeto de revitalização da praça localizada no bairro Vera Cruz.

No entanto, Wickert salienta que há certa dificuldade em tirar as ações dos papeis, em virtude da situação delicada que o país enfrenta. Por isto, segundo ela, a prefeitura precisa criar uma hierarquia que estabelece quais são os equipamentos mais importantes para cada setor, e é neste momento que projetos relativos às praças de bairros acabam ficando para trás. “Os espaços públicos de lazer são muito importantes e temos que vê-los como prioritários, mas o município é grande e temos muitas demandas. Existe um volume muito grande de população indo morar em bairros como a Donária e Santa Marta, e sabemos do grande número de pedidos por uma praça, por isso já estamos estudando a construção delas, assim que possível. Porém, são centenas de moradores se estabelecendo ali que precisam de toda a sorte de um suporte do poder público, que é de certa forma mais urgente, no sentido de escolas, unidades de saúde, pontos de ônibus... Então estamos trabalhando nessas implantações neste primeiro momento”.

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