Entre 1963-67 assistíamos, nas noites de sextas-feiras, O Fugitivo que narrava a frenética busca do assassino de sua esposa enquanto que era perseguido pela polícia como principal suspeito. David Jansen interpretava Richard Kimble e o seriado dividia-se em 5 partes. No epílogo, desdobramento ou endpoint como se queira satisfazer vinha a tristeza, o abandono, a fuga. Kimble olhava para frente em busca do assassino e olhava para trás para fugir da justiça assim como faria David Banner, em O Incrível Hulk. Banner ía embora ao som do piano da música considerada como a mais tristes das músicas dos seriados. Era o homem diante do passado e futuro e em busca permanente, ou seja, um pouco de cada nós.
Puxa, são quase quinhentas crônicas nesse espaço de jornal onde fiz nudes de minhas ideias. A intenção era escrever para minha mãe e meus filhos. Mas, alguns amigos distraídos também passaram os olhos nelas, ligeiramente, e fui ficando. Sempre tive a sensação de escrever temas que pudessem em algum momento servir de reflexão e melhoria da qualidade de vida de quem quer que fosse, assim como fiz em minhas palestras e aulas nas casas espíritas e para os diversos alunos. Alguns jovens, inquietos e numa vibe diferente comentaram que eu divagava nas aulas (saía do tema para falar da vida, como se isso interessasse a todos) e pensei em trocar de Dr Jorge para Dr Divago, em homenagem a Omar Shariff.
De qualquer maneira estive emparedado entre convicções que se diluiram e incertezas que não se confirmaram, entre o existencialismo e a vida com propósitos, entre a fé e o agnosticismo. Nunca me dispus a afirmações definitivas porquanto o mundo é o que é a partir do prisma de cada um, a partir da subjetividade. Posso abraçar ideologias ou me desencantar com todas de acordo com o momento porque acredito que o homem é ele e as suas circunstâncias. Um cara, por exemplo, que afirma que não rouba porque não precisa disso talvez esteja querendo dizer que se preciso fosse, roubaria. Move-se pela moral, pelo circunstante, pela necessidade.
Estou assim, em epílogo e necessito descer do ônibus, necessito reflexão, tempo para ordenar as ideias e é provável que alguns dos dezoito leitores que me brindam percebam minha ausência. Sou o resultado de minhas vivências e observações e minhas ideias servem a mim e a mais ninguém, nem poderia ser diferente. Ainda consternado pela perda da Rosabela (Neca) - esposa do Aloir, irmã de Helio Renan e Rosali, a pequena grande mulher, da doçura, de humanidade e receptividade indescritíveis, menina que nunca vi triste e muito menos vi chorar - percebo as certezas de um homem sessentão como eu. Primeira certeza: a vida passa muito depressa, é curta até demais; segunda: perde-se muito tempo com bobagens, com preocupações idiotas e com pessoas que não merecem o apreço que foi dado; e terceira: quando a gente constata as duas primeiras a gente está quase no fim da vida.
O livro de minha filha está à venda na Livraria Delta e aproveito para agradecer aos que compareceram e aos que se manifestaram em apreço ou críticas.
Fui... até qualquer dia.
Então tá, fui.