Interditado desde agosto deste ano, por problemas estruturias e risco de desabamento, o edífcio Gralha, na Cohab I, passou por uma perícia judicial, ontem à tarde. A vistoria foi solicitada pela 2ª Vara Cível da Justiça Federal de Passo Fundo, onde tramita um dos processos.
Acompanhada de dois engenheiros da Caixa Econômica Federal, da advogada Katiane Gehlen e do vereador Saul Spinelli, a perita judicial, Deborah Machado, registrou imagens fotográficas de alguns apartamentos, corredores internos, escadaria, e também na parte externa. O material será usado por ela na elaboração do laudo técnico.
Sem prazo previsto para conclusão da análise, Deborah já adiantou que a interdição será mantida. "É uma situação de tristeza, de desolação o que encontramos aqui.No momento só posso afirmar que a interdição permanece. Se necessitar de outros dados, poderei fazer uma segunda visita", afirmou. O laudo será anexado ao processo. Os dois engenheiros da Caixa Econômica Federal disseram que estavam apenas como assitentes.
A perícia também deve levar em consideração informações contidas no laudo técnico solicitado pelos moradores. A partir de um levantamento minucioso, inclusive com uso de um drone, o engenheiro Eduardo Madeira Brum, especialista em projeto, execução e controle de estruturas e fundações classificou a situação do do prédio na faixa de 'risco crítico'e recomendou, como única alternativa, a demolição.
O estudo identificou problemas na fundação, revestimento e também no material utilizado, já sem vida útil. No período de 60 dias, foram feitas três medições e constatado que o prédio baixou sete milímetros, além de sofrer inclinação de quatro centímetros em uma das fachadas. O laudo apontou ainda, o uso de material inadequado, como no caso de tijolo de seis furos, que não tem função estrutural, aplicado na fundação e na região da escadaria.
O diagnóstico terminou com as expectativas dos 16 moradores, que já cogitavam o início das obras de recuperação. O Gralha está interditado pela Prefeitura Municipal e Corpo de Bombeiros há quase dois anos.
Rosemari da Rosa dos Santos, 60 anos, retornou ontem à tarde em seu apartamento, para acompanhar a perícia.De proprietária de um imóvel, onde viveu por 25 anos, ela se transformou em inquilina, assim como os outros 15 moradores.
Situação que segundo ela, 'já passou de desesparadora'. Pagando um aluguel de aproximadamente 1 mil, a aposentada não consegue mais comprar os medicamentos que necessita. "Já chorei tudo que tinha que ser chorado. Nunca imaginei que um diria teria que sair da minha própria casa, onde fiquei mais de 15 anos pagando. A gente sente na alma", disse emocionada.
A advogada Katiane Gehlen, disse que o primeiro laudo já está anexado ao processo. "Realizamos reuniões com a Justiça Federal e Ministério Público Federal, para buscarmos soluções mais rápidas. Na medida do possível, o titular da 2ª Vara Cível, Moacir Baggio, está acelerando o processo com prazos menores para minimizar o sofrimento dos moradores" comenta. Segundo ela, além do processo na Justiça Federal, outros dois tramitam na Justiça Comum, contra a Caixa Seguros S.A.
As 16 famílias pedem reparação dos danos materiais, aluguel social e danos morais. "Muitos estão pagando aluguel, outros morando em garagem" diz a advogada. Dos 16 proprietários, três deles ainda estão quitando o imóvel. A Justiça Federal já aceitou a legitimidade da Caixa Econômica Federal no processo
CEF
Em agosto, a Caixa Econômica Federal havia se manifestado, através da assessoria de comunicação, sobre o caso. Na oportunidade, declarou que a construção e financiamento aos mutuários do edifício Gralha, foram realizados pela Companhia de Habitação do Estado do Rio Grande do Sul (Cohab), e não pelo banco. Disse ainda que, entre os anos de 1999 e 2002, a Cohab, que já se encontrava em processo de liquidação, cedeu ao banco créditos a receber de financiamentos habitacionais por ela concedidos, sendo 14 contratados do edifício Gralha, mantendo a propriedade dos imóveis. Contratos estes, que de acordo com a Caixa, encontram-se inativos.