“O transplantado é como uma fênix que renasce por meio da doação”. A afirmação do aposentado Jorge Santos reflete o sentimento de milhares de pessoas que já passaram pela fila de transplantes à espera de uma doação. Sentimento, esse, que mais de 30 mil pessoas ainda esperam viver. Com o objetivo de mudar essa realidade, Jorge integrou a equipe do Programa de Extensão da Universidade de Passo Fundo (UPF), ComSaúde, em uma ação de conscientização para a doação de órgãos. Juntos, professores e acadêmicos dos cursos de Artes Visuais, Jornalismo e Medicina, além de uma equipe do Hospital São Vicente de Paulo pintaram, na tarde dessa sexta-feira, dia 24 de novembro, a Árvore da Doação, na escadaria do Campus III da UPF.
Diagnosticado com Hepatite C em 2007, Jorge viu, tratamento após tratamento, suas chances de viver se esgotarem. Pouco tempo depois após o diagnóstico, descobriu que os tratamentos para a doença haviam afetado seu fígado e que sua única opção seria um transplante. “Chegaram a me dar 12 horas de vida”, lembra. Foram cinco meses de espera na fila de transplantes até que uma ligação mudou sua vida. Após cerca de nove horas de cirurgia, Jorge havia renascido. Hoje, cerca de oito anos depois, o aposentado abraçou a causa. “Nessa trajetória toda eu aprendi muita coisa e uma delas foi a importância de uma doação. Há sete anos, desde o transplante, eu faço um trabalho intenso de incentivo a doação de órgãos e felizmente já ajudei muita gente e pretendo continuar para que mais pessoas abracem a causa”, conta.
Ajudar pessoas como o Jorge é justamente o que pretende a ação do ComSaúde, Programa vinculado à Faculdade de Medicina e à Faculdade de Artes e Comunicação da UPF. “A ideia de criar a Árvore da Doação é que isso sensibilize as pessoas que passarem por ela com o tema da doação de órgãos”, comenta a coordenadora do Programa, professora Cristiane Barelli. Segundo ela, um dos maiores problemas no Brasil hoje é o grande índice de negativa, ou seja, quando a pessoa tem condições de doar, mas ao ser decretada a morte cerebral, a família recusa a doação. “No Brasil, de cada dez famílias abordadas, oito negam. Oito pessoas que poderiam doar muitos órgãos e salvar muitas vidas, e que em vida certamente seriam doadoras, acabam não executando essa intenção de ajudar o outro”, explica.
Para a professora, o que mais impede a doação são os inúmeros mitos que ainda estão envolvidos nessa temática que vão desde a dificuldade de entender que após decretada a morte cerebral – o que normalmente é feito por dois médicos- a pessoa não irá mais acordar, problemas em abordagem e até a forma abrupta com que a morte acontece. “O doador de órgãos geralmente é uma pessoa saudável que morreu de forma abrupta e a família tem que lidar com a dor da perda, que acontece de uma hora para outra, e também pensar se essa pessoa vai ser doadora ou não. É complexo, mas quanto mais se falar disso antes que a morte aconteça a gente acredita que seja mais fácil”, orienta Cristiane.
Árvore de Doação
A ideia de pintar as escadarias do Campus III partiu dos próprios alunos do curso de Medicina, integrantes do Programa. “Nós temos aqui Jornalismo, Artes Visuais e Medicina, cursos completamente distintos integrados em prol de uma causa, junto com a equipe que trabalha com isso. Isso torna ainda mais rica a possibilidade de a gente estar sensibilizando outras pessoas”, ressalta a professora.
O que seria pintado também foi uma decisão colegiada, conforme a coordenadora da atividade e também coordenadora do curso de Artes Visuais, professora Mariane Loch Sbeghen. Segundo Mariane, a ideia da Árvore foi inspirada nas Árvores da Literatura, criadas pelo curso para as Estações de Leitura, atividades de preparação para as Jornadas Literárias que aconteceram em outubro. “A gente criou as Árvores da Literatura, durante a Jornada Nacional de Literatura, com a ideia de conscientizar as pessoas a ler mais e pensamos porque não conscientizar as pessoas a doar mais e assim veio a ideia de criar a Árvore da Doação”, explica. Para Mariane, a doação é como uma semente que você planta, assim como a árvore. “É uma campanha de um olhar diferente, de uma consciência cidadã. Essa é a ideia que a gente quer transmitir para a população, que as pessoas tenham aquele olhar da importância da doação de órgãos”, diz.
A ação também envolveu os alunos de Artes Visuais em sala de aula já que os desenhos de órgãos em stêncil usados na Árvore foram criados pelos alunos durante as aulas da disciplina de Gravura I. “Foi uma forma de eles fazerem parte também dessa ação tão importante”, completa Mariane.