Há 3 noites Garrido, Oberdan e eu ocupávamos uma das mesas de um Boka superlotado para acompanhar e torcer pelo Grêmio. Há jogos que não se deve assistir sozinho, é preciso algo mais, é preciso magia, é preciso paixão. A alegria necessita ser compartilhada, é contaminante. A tristeza é algo solitário, quase impossível dividir. Nada pode ser maior que a paixão (amo tua voz e tua cor...e o seu jeito de fazer amor – K&K). A paixão vem de dentro e é o que se pode chamar de motivação, algo que que vem da energia que diferencia o superior do qualquer. É diferente do que se chama de estímulo, algo que vem de fora. Posso estimular um jogador aumentando a premiação por vitória, ao passo que ele poderá jogar menos se não houver oferta de dinheiro. Todos os grandes jogadores ganham bem, esse é um bom estímulo. Renato Portaluppi encontrou sua maneira de despertar a motivação no seu grupo e é perceptível quando acredita nos escolhidos, quando traz Bressan, Jael, Cícero, Cortez – indesejados em outras plagas para serem campeões. Deve olhar nos olhos de cada um e dizer – acredito em você, esteja pronto para o desafio. Lincoln, jovem ainda, foi emprestado para se descobrir e entender que sem paixão não encontrará seu espaço.
Berenice canta que o velho gosta de churrasco, bom chimarrão, fandango, trago e mulher. É a essência de fazê-lo sorrir, é tudo do que precisa para viver e se sentir pleno. E todos nós temos o combustível que nos arrasta a vencer na vida, não necessariamente vitórias materiais ou sociais, vitórias no cotidiano, vitórias aquilatadas pela boa convivência e respeito aos demais. Por isso não aprecio flautas em redes sociais, aliás, é nas redes sociais que a gente mostra quem somos. Flauta deve ser feita de maneira sutil e endereçada a quem apreciamos como aquela encaminhada pela imprensa pela direção do tricolor do Humaitá quando o colorado alcançou o seu título mundial (com a minha torcida, acreditem) – “o primeiro clube gaúcho campeão do mundo saúda respeitosamente o segundo”. Isso é sutileza e inteligência e não a carnificina estampada que gera idiotices. Cada qual tem seu tempo e espaço, cada qual tem seu momento, é cíclico e salutar. Vitória hoje, derrota amanhã. Somos grandes porque somos dois.
O Grêmio tem jogado um futebol superior, futebol da calma, da não afobação, sabe atacar no momento adequado, sabe se defender, faz a bola girar. Nunca o vi jogando assim, sem aquela coisa épica, do sangue de Hugo de León escorrendo na testa. Dizem que é um futebol arte, aquele que o Brasil tinha a granel. Futebol arte, reconhecido como exponencial até pelos adversários mais ferrenhos. Dizem por aí que a arte imita a vida e a vida imita a arte. Acho que deveríamos aproveitar esse momento mágico e pensar em acrescentar arte, diferenciação, nas nossas existências, a não ser que queiramos ser emprestados para algum país distante para repensarmos nossas condutas em busca da paixão e da motivação.
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