Em 17 de setembro Laudir de Oliveira infartou enquanto trabalhava em um show musical no Rio. De sua morte saiu uma notinha na ZH, nada mais que isso. Quem se importa com Laudir? Quem se importa com alguém? Tantos de nossos amigos partiram para outros universos e dedicamos notinhas em suas memórias; quem se importa com os outros?
Laudir, percussionista da Banda Chicago, ganhou um Grammy em 1976. Tocou com Sergio Mendes, Hermeto, Joe Cocker, Jackson Five, Santana e uma infinidade de cantor estrangeiros e nacionais como Zé Rodrix, Tavito, Milton, Flora Purin, Airto Moreira. Além disso tudo foi ator, dançarino, ritmista, artista plástico e produtor musical. Morreu trabalhando, como Airton Senna, diria minha mãe e para uma personalidade dessa...uma notinha póstuma.
Soube de sua existência entre os anos de 1974-75 no programa do Helio Ribeiro ao ouvir o hit Happy Man, um dos primeiros da Chicago, no esplendor da voz de Peter Cetera e o maravilhoso trabalho de grupo de sopro que abrilhantam a banda, tal qual o grupo que acompanha Jeff Lynne no Eletric Light Orquestra (ELO) usando violinos, violoncelos, contrabaixo, saxofone e madeira, resgatando o rock abandonado pelos Beatles – ELO “o grupo britânico dos violinos grandes”, como se dizia. Em 1976 Eduardo Fernandes comprou o vinil da ELO como grande hit Livin’ Thing (ouçam, por favor). Era um tempo em que curtíamos Bachman Turner Overdrive, Kraftwerk, Giorgio Moroder, Slash, Santa Esmeralda e Queen –todos os álbuns. Eu apreciava Carpenters, Suzi Quatro, Barry White e Stylistics.
Isso tudo para dizer que algumas pessoas acrescentam arte na vida dos outros; e arte é tudo que se precisa quando imaginamos que somos mais do que trogloditas. A manifestação musical, literária, interpretação, pintura, dança, qualquer que seja enfeita a vida e remete ao sonho. Ou à magia, se quiseres. Laudir mostrava sua arte em Happy Man e depois em Hard to Say I’m Sorry numa época dos meus dezessete-vinte anos e ali estava a essência do que eu viria a ser – feliz, sim, feliz porque embevecido pela beleza musical e do alto da potência hormonal da juventude só havia um caminho a percorrer: descobrir a arte que me foi destinada e tentar, a partir dela, construir universos que encantassem meus circundantes e a mim mesmo. Nasci para isso, para a construção. Aliás, todos nascemos com a potência da construção e o cotidiano dá asas para o desempenho. A arte, exteriorização da energia que existe em cada um, é a extradulação que faz com que mereçamos o rótulo de seres extraclasses. Todos imaginam-se merecedores da companhia de seres assim. Será que somos especiais na vida de alguém? Se estivermos ligados poderemos ter participação positiva e contagiante na vida de terceiros. A arte é de fazer e de apreciar. A arte também precisa de quem a aprecie e eu sou um desses, também.
Veio a morte buscá-lo, olho aquele corpo inerte e sem vida ali na emergência e fico a me perguntar para onde foi a energia que o habitara, aquilo que denominamos alma? Deve ter ido para outros universos, para o multiverso. Fico a me perguntar se aquele corpo inerte fez bom uso da energia que o habitou? Por que alguns de nós têm energia boa e outros não?
Tempo de natal, tempo de reflexões, lembrei de Laudir e de sua arte contaminante a produzir insights, a extrair, assim como tantos, o melhor das pessoas. Valeu, Laudir, show de bola –happy man que ajudou a plantar na mente de tantos apaixonados a imensa vontade de um dia também ser happy man.
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