OPINIÃO

Junção ou congraçamento?

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Ao finais de anos costumamos agregar a turma que, se há mutualização de sentimentos chamamos congraçamento e se, por inúmeras razões, houver algum tipo de cisão chamamos o encontro de junção. Ninguém gosta de junção, parece encontro fortuito de pessoas em que algumas parecem não sentar a mesma mesa. O ideal é a mágica do encontro daqueles que nunca se separaram ou daqueles que as vicissitudes não foram capazes de distanciar. Meu pai tentava tornar eventuais junções em congraçamentos e nada era impossível para um catalisador de diferenças, nada que um bom abraço e sorriso não equilibrasse. Agora, neste final de ano em que minha casa parece ser inspiradora parar receber parentes próximos e alguns amigos não poderia deixar de lembrar de meus pais e do ambiente mágico da residência de Ivone e Sergio Patussi onde, há algumas décadas percebi em vários momentos a atmosfera do equilíbrio, a performance do comandante em estabelecer entre filhos e noras a magia da vida bacana. Sempre quis ter essa potência, a de significar na vida de outras pessoas. Às vezes, na verdade não raramente, brigo comigo mesmo e percebo que mais importante que ser feliz e sentir-se útil porque na utilidade ou na sensação dela encontramos a paz. Natal é paz, fim-de-ano é paz. Ivone e Sergio foram inspiradores e sua casa dava em mim vontade de nunca ir embora já que meus pais moravam em Floripa. Como agradecer a pessoas assim?


Queria poder abraçar todos que em seus lares promovem convergências e dizer que é essa a vocação cristã, humanitária ou de outro credo ou, ainda, talvez de credo nenhum – a vocação de estimular as convivências pacíficas e de dotar nossas caminhadas em ambiente de surreal leveza, mesmo nesses tempos difíceis.


Bem, nem tudo é leveza e o fim-de-ano marca por indultos e liberdades a meliantes, além da não prisão de gatunos que colocaram as mãos na nossa suada grana e desviaram para o grande desiderato pessoal da maior parte dos políticos famosos – a locupletação. E faltou grana para os hospitais, para as medicações, para a segurança, para os professores e as coisas todas vão subindo de preço. Veja que a sordidez é generalizada, atinge a todos os partidos. Porque o problema não é o partido, o problema é o ser humano em quem votamos se desvincular do discurso ético e aplicar sua práxis e o povo que se exploda, como dizia o deputado Justo Veríssimo (Chico Anísio) ou como tenta dizer João Plenário (Saulo Laranjeira). Não há bandeira capaz de proteger o homem desonesto, o desonesto se enreda nessa corrente ou naquela. Ah, se tudo se resolvesse apenas coma troca de uma letra. E, se a gente perde a confiança nas pessoas apelamos para as instituições - Câmara, Senado, Judiciário, já que o executivo está interessado em salvar a pele ou planejar a continuidade dos mandatos de maneira solerte. Quando se perde a confiança no executivo-legislativo-judiciário surge outra instituição clamada por grande parte da sociedade, como em 1964 – os militares. Vejam como tudo se repete, como se não fôssemos capazes de trilhar caminho da honestidade. Rosseau escreveu sobre isso em sua obra O Contrato Social. E, se vierem, os militares, a pedido de muitos, virão sob o espocar de foguetes e seja o que Deus quiser. Ou melhor, seja o que tu quiseres que seja.

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