OPINIÃO

Teclando

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O enxágue da alma

Se o ano novo permite uma reciclagem, vamos limpar os maus pensamentos e acabar com as ideias retrógradas. É o momento oportuno para uma faxina na conduta. Faz bem refletir e avaliar os conceitos e preceitos que adquirimos ou até mesmo herdamos. Essa limpeza exige isenção, senso crítico próprio e vergonha na cara. Sim, cara a cara no espelho, na mais pura e autêntica intimidade. Já no primeiro enxágue, os preconceitos devem escoar pelo ralo. Não se preocupe com o gênero, mais perigosos são os genéricos. Não tenha aversões étnicas, fique atento à falta de ética. Não desrespeite devoções religiosas, tenha cuidado com hipocrisias vergonhosas. Agora, por via das dúvidas, mais um enxágue, pois o preconceito além de nojento também é pegajoso. A próxima etapa desse processo é desprender as ilusões, que podem ser as antigas ou as da moda. O que é certo? O que é errado? Use o alvejante da verdade para acabar com pensamentos turvos. Progressivamente já vai aparecendo um pouco de você mesmo. Agora utilize o sabão do conhecimento para que a espuma limpe os erros e carregue aquele monte de besteiras que colocam na sua cabeça. A espuma branca representa um alívio, o borbulhar dos arrependimentos. Mas a assepsia mental ainda exige alguns retoques. Passe um desinfetante, pois há muita maldade em nosso meio. Também é necessário neutralizar o pH, eliminando os resquícios da raiva e da inveja. Para finalizar, utilize em sua mente o amaciante da alma. Pronto. Agora seja você mesmo durante este ano. Mas cuide bem para não sujar!

Mea-culpa
Enquanto era programador musical, fui excessivamente exigente e até um tanto preconceituoso. Sequer olhava para a capa dos discos de cantores popularescos. Eram classificados à época como ‘marca diabo’. Mas nessa turma também havia grandes talentos. Um deles é Fernando Mendes, cuja obra merece sempre um novo olhar. Suas letras expressam sentimentos e escancaram grandes verdades. Uma delas é Sorte Tem Quem Acredita Nela, que faz uma contundente crítica comportamental. Há um trecho em que diz “não adianta ir à igreja rezar e fazer tudo errado”. Será que os hipócritas que se enquadram nos versos da canção também farão um mea-culpa? Nesta época, isso poderá representar um alívio para o ano inteiro. Eu já me sinto aliviado.

Futuro do pretérito

O novo é bom, porém sempre será desconhecido. Aquilo que já conhecemos até pode ser péssimo, mas sabemos do que se trata. O grande risco de algumas novidades é aquilo que não enxergamos. Bonitas fachadas ou lindos discursos podem acobertar perigos. Uma ameaça que se multiplica pela inaptidão ao manuseio de novos meios de intercomunicação. Fico preocupado com redes sociais de olho em pequenos orifícios, em detrimento de enormes buracos coletivos. Será que teriam trocado o para-brisa pelo retrovisor e não me avisaram?

 

Trilha sonora
Um grupo de música latino-mediterrânea. Uma mescla de muita harmonia, o French Latino: Historia de un Amor
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