O momento que vivemos no país está deixando os brasileiros, em particular os mais pobres, atordoados. As investigações revelaram gigantescos esquemas de corrupção. E cada dia novos fatos surgem. É uma verdadeira praga. Há uma longa lista de acusados, com uma enxurrada de acusações, prisões, condenações, absolvições, recursos, liminares, interpretações, etc, etc. Fica a pergunta onde está a verdade? Quem está falando a verdade? O que é fato? O que é versão do fato?
Depois de ser preso, Jesus foi conduzido a Pilatos para ser interrogado. No interrogatório Pilatos faz uma pergunta a Jesus: “O que é a verdade?” (Jo 18,38). Certamente fez esta pergunta porque tinha informações de que Jesus era verdadeiro, falava a verdade, testemunhava a verdade, educava as pessoas à verdade e se tinha apresentado como a Verdade. A pergunta é feita durante um processo no qual Jesus era réu e havia a necessidade de fazer um julgamento e proferir uma sentença.
Para que uma sentença de absolvição ou condenação seja justa precisa revelar a verdade. Cada dia juízes, revestidos pelo Poder Judiciário, emitem sentenças. Somente os julgamentos e as sentenças de alguns personagens públicos despertam um interesse maior da sociedade. Torna-se um debate público, indo além dos tribunais. Isto é salutar para a sociedade e para o poder judiciário. A publicidade permite que a sociedade compreenda melhor o sistema judiciário, seus trâmites, seus limites e o serviço que presta.
Os processos revelam como é difícil chegar à verdade. Os recursos revelam que as partes não ficaram satisfeitas com a sentença, ou porque foram injustiças ou porque não querem admitir a acusação, reconhecendo a culpa. O recurso a instâncias superiores é um meio para um julgamento mais justo, pois um colegiado pode errar menos do que um único juiz.
E a pergunta de Pilatos: O que é a verdade? Não se encontra uma definição unívoca. O dicionário de filosofia de Nicola Abbagnano distingue cinco conceitos fundamentais de verdade: 1º A verdade como correspondência, é a definição mais importante e a mais difundida. Santo Tomás de Aquino a formulou assim: “correspondência entre o intelecto e a realidade”. 2º A verdade como revelação ou manifestação, tendo como formas fundamentais: uma empirista – ligada aos sentidos – e outra metafísica ou teológica. A ênfase está na evidência. 3º A verdade como conformidade com uma regra ou conceito. 4º A verdade como coerência e o 5º a verdade como utilidade, isto é, verdadeiro o que me é útil.
O Catecismo da Igreja Católica, nº 2468 ensina: “A verdade como retidão do agir e da palavra tem o nome de veracidade, sinceridade ou franqueza. A verdade ou veracidade é a virtude que consiste em mostrar-se verdadeiro no agir e no falar, guardando-se da duplicidade, da simulação e da hipocrisia”.
A verdade não pode ser refém de visões subjetivas e da arbitrariedade dos interesses pessoais ou de grupos para manter o poder. Tornaria a justiça impossível. As ditaduras na história se construíram e se mantiveram sobre mentiras. O ensinamento de Jesus que a verdade nos torna livres, é condição para restabelecer um clima de confiança para enfrentar os múltiplos problemas sérios que o país enfrenta em vista da construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. O amor incondicional pela verdade poderia ser simplificado nas palavras de Jesus: “Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do Maligno” (Mateus 5,37).