Escrevo esta coluna antes de conhecer o resultado do recurso de Lula no TRF-4. Muito improvável que obtenha voto a favor de sua defesa. Neste momento, seja qual for a decisão, o que mais importa é que o Judiciário demonstre sua efetividade. A repercussão é no sentido de consolidar o momento grave da história, em que o clamor é pela ação do Estado brasileiro frente à quebra de paradigmas em relação ao patrimônio público. O tempo dirá sobre o mérito político ou jurídico do processo condenatório de Lula. Se a justiça pública continuar, as coisas poderão mudar no país. Se apenas Lula for punido será a oficialização da desgraça para o povo.
O ciclo do desemprego
O desemprego é assombro feroz capaz de desmantelar um ciclo virtuoso recém iniciado no Brasil. O dado que dilapida a massa produtiva instala-se no núcleo familiar. No ano de 2016 foram anulados 400 mil empregos, com carteira assinada. Essa estatística demolidora vem atrelada à ampliação das diferenças sociais de acesso à riqueza do país. Aqui, entre nós, apenas 1% dos mais ricos bilionários detêm 83% da renda. Emprego, além de prover a dignidade, é reserva de fluxo para a moeda circulante. O governo, na orientação patrimonialista de gestão, acaba de perceber que a redução de emprego formal afeta a arrecadação previdenciária.
Saúde sem plano
A queda da renda média do trabalhador faz cair os planos de saúde. Em 2016 verificou-se o grande baque no investimento das famílias em planos de saúde privada. Foram 1.500.000 que desistiram. No ano passado foram 200 mil que se juntam aos beneficiários do SUS, embora a saúde ande com o cobertor curto.
Borrão na sigla
Historicamente a ideia de justiça social via valorização do trabalho teve momentos de imensa grandeza, a partir da abolição da escravatura. Veio a era Vargas com o surgimento da CLT e as campanhas partidárias de ideais consolidados no trabalhismo. O PTB se orgulhava da popularidade da sigla, sonegada ao Trabalhismo brizolista. Infelizmente, no governo Temer o Ministério do trabalho tem sido cenário de descrédito para ideologia trabalhista. Num curto espaço levantaram-se nuvens tenebrosas especialmente com a funesta tentativa de impedir o movimento contra o trabalho escravo. Com a nova indicação, imaginava-se algum resgate em favor da causa trabalhista, quando foi indicada a nova ministra Cristiane Brasil. Lamentavelmente chegou com defeito de etiqueta. Fraudadora de direitos, objeto prioritário da Pasta do Trabalho. O defeito é ético. Por ora o Judiciário mostra-se disposto a impedir o desplante. Os líderes insistem na insensatez, apostando em decisão favorável do Judiciário. Seja qual for a decisão do Supremo, está sedimentado o borrão na história do PTB, heresia ideológica.
Hugh Masekela
Faleceu nesta semana o trompetista Hugh Masekela, considerado o pai do jazz sul-africano. Além de músico respeitado mundialmente foi incansável nas lutas políticas do povo sul-africano. Na condição de militante antiapartheid, suspendeu por duas vezes sua carreia ao liderar protestos pelo massacre policial contra a população negra. Deixou assinalada sua luta pela liberdade nos fortes apelos de emancipação humana, na música Soweto Blues, que se tornou hino antiapartheid. Esta música juntou-se a Bring Hem Back Home (Nelson Mandela), no movimento telúrico de seu povo sofrido. Com seu talento respeitado em todo mundo, atuou para nutrir uma das lutas mais sagradas e heróicas da humanidade contemporânea, contra o abominável poder racista da geração colonizadora dos brancos. Morreu de câncer aos 78 anos. O presidente da África do Sul, Jacob Zuma lamentou dizendo que Masekela carregava sempre a tocha da liberdade. Até seus últimos dias compunha canções e tocava com ardor combativo.
Caixa
As regras do presidente Temer para a lisura dos cargos federais de confiança são mais volúveis que a previsão de quem pede música no Fantástico. Imaginem o tamanho da pressão que o levou a exonerar três vice-presidentes da Caixa Federal. A má administração, ou propina, prenuncia escândalo estrondoso.