OPINIÃO

Semana estranha

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Márcio Tavares D’Amaral nasceu em Blumenau e é professor da UFRJ na Faculdade de Comunicação. É o meu filósofo contemporâneo do momento porque Clóvis Barros e Mario Cortela tornaram-se midiáticos e começaram a produzir intensamente (tem muito público que os consome) e, por assim dizer, tornam-se maçantes ou repetitivos. Houve uma época em que não perdia uma palestra do gaúcho Valdez Ludwig, ele se expressava para empresas e tratava com elegância e humor que o valor dessas residia no capital humano. Empresa bacana tem funcionários bacanas e o único capital que vale é a pessoa, é o profissional. Meu tempo de Valdez também passou, assim com Gibran Kalil, Hermann Hesse e Richard Bach.


O filósofo Marcio Tavares não gosta de escrever embora já tenha dezenas de publicações à venda. Tem uma palestra nas redes intitulada “uma África de sofrimentos”, em que o autor destila que 1\3 da população humana não consome e que, portanto, não existe. Você e eu só valemos se consumirmos, é só a gente se aposentar que uma infinidade de bancos liga e oferece generosos empréstimos consignados, por exemplo. Há três bilhões de pessoas no mundo (uma África inteira) deslocada ou não interessante. Há deslocados que não consomem, há outros que não lêem.


Essa semana que se encerra marcou o julgamento em segunda instância do ex-presidente Lula. Eu nada entendo de direito (há pouca coisa que julgo entender bem) e fiquei com a impressão de que houve tentativa de enquadrar o ex-presidente numa perseguição política desferida pela elite direitista com o apoio de potências estrangeiras e que o acusado é absolutamente inocente por nada saber e não deter o patrimônio mencionado na peça acusatória. Não foi o momento de se falar do BNDES e dos fundos de pensão e do rombo astronômico das estatais no comando perverso de quem deveria zelar pelo que é público. Ainda há muita gente a ser investigada e punida. De certa forma vi três jovens explicitando suas decisões e poderiam ser meus filhos. Deu-me uma esperança de que o país ainda tem jeito. Não houve foguetório quando a decisão do TRF 4 (Justiça Federal - 4ª Região) foi comunicada porque é vexatório que entreguemos nossos destinos nas mãos de meliantes. Há uma África de cidadãos brasileiros que entrega a alma por mortadela, pão e cem reais para fazer barulho, protestar, queimar bandeira nacional, promover desobediências e não aceitar o que a justiça determina e é por isso que minha esperança se faz pequena. Há uma África de massa de manobra para que algumas lideranças levem vida luxuosa com o dinheiro de outros. A África de sofrimento deveria, quem sabe um dia, ler A Revolução dos Bichos e veria estampado o que o homem se torna quando alcança o poder.

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