A luta em favor do trabalho e trabalhador remonta de séculos. O período mais cruel da história brasileira foi a vigência da lei da escravatura, que consolidou idéia e prática criminosa contra a vida de gerações humanas. Os efeitos da escravidão não ficaram limitados aos negros e índios submetidos a condições desumanas, estupros, mortes, tortura ou mutilações. Formou-se oficialmente a cultura da submissão a todos, brancos, negros ou pardos, que nascessem abaixo da linha de poder. A deformação moral, ética e psicológica penetrou nas entranhas das gerações que mantiveram a perversidade de quem era submetido ao trabalho forçado, ou condições semelhantes nos engenhos de uma elite criminosa. Foram três séculos de intensa ilegitimidade do capital em mãos de exploradores que acumularam riquezas com base unicamente na exploração e injustiça social. A elite incompetente e socialmente inoperante cultivou a dinastia dos nababos a um custo social infame, onde pobres e desvalidos deveriam ser eternamente desprezados. O cancro da prepotência só foi atacado pelas lutas sociais em defesa do trabalhador, mas a cultura da injustiça social permanece.
Ministério
A instalação da República embora viesse carregada desproporcionalmente pela influência dos poderosos, ensejou os primeiros espaços de luta por justiça social. A nomeação da meia ministra, pelo meio governo Temer, para o Ministério do Trabalho, exibe o desprezo pela instituição que representa conquistas mínimas do trabalhador. Cristiane Brasil é continuidade da recente investida na desmobilização da força de trabalho. Não foi por acaso que o ato do atual governo tentou destituir o valor das relações laborais para proteger trabalho escravo. O episódio escancarado revoltou o país. A nomeação de Cristiane Brasil é insistência grave em desdenhar o direito do trabalho. É a figura que deslustra conquistas históricas e principiológicas. É isso que fere a cidadania, antes mesmo das dúvidas sobre suas condições pessoais de ocupar função pública. Mesmo que decisão judicial autorize a posse de Cristiane, será um vexame para a democracia.
Raquel Dodge
A recente manifestação da procuradora geral Raquel Dodge, para retomar a luta contra o trabalho escravo apresenta-se como urgência cívica. A forte corrente de retrocesso que ainda viceja no governo precisa ser estancada.
Explosão do ódio
A escabrosa situação gerada com a violência no Rio de Janeiro, que se projeta em todo o país tem suas origens na prolongada ferocidade da escravidão. Impregnou-se a cultura de que apenas uma minoria privilegiada tenha direito à dignidade. Este é o ódio contra os subdesenvolvidos. As ondas de violência assombram até áreas da Marinha Brasileira, como o campo de instruções no Rio. Já é demais há muito tempo!
A escalada feroz
A aflição popular expandiu-se com crueldade veloz. A dor da insegurança tomou conta dos pobres. Vítimas que vão além das atrocidades das vias - Amarela ou Vermelha. Se toda a guerra é injusta, eis aí nossa herança de injustiças seculares.
Se Lula for preso haverá impacto
Retomados os trabalhos do Supremo Tribunal, o noticiário sobre recente julgamento de deputado federal João Rodrigues, do PSD, imagina-se o que posa acontecer a Lula. O voto do ministro Alexandre Moraes ecoa como prelibação para a sentença que condenou o ex-presidente. Na sua manifestação o ministro não deixa dúvidas de que a sentença de execução em segunda instância de Lula deve seguir o entendimento pela prisão e inelegibilidade. As condições eleitorais terão como palavra final o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral. As forças petistas e partidos apoiadores já discutem nomes alternativos. As ações em defesa de Lula valem como investimento de mobilização, enquanto os partidos mais conservadores tentam debelar volume considerável de acusações a seus líderes entre possíveis envolvidos em ficha suja. Lula ainda tenta recurso sobre decisões, mas com possibilidade de êxito cada vez mais remota. A prisão de ex-presidente em plena popularidade terá impacto inevitável, embora não imprevisível.