OPINIÃO

Vai começar a festa

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Assim como acabou a farra das promessas eleitorais fáceis, findou-se também o período do Carnaval. Com isso, a constatação de uma triste realidade: o Brasil está muito diferente do apresentado e propagandeado pelo governo e seus seguidores e mais distante ainda do luxo das fantasias e desfiles apresentados ao grande público. Respondendo a críticas, o cantor e compositor Neguinho da Beija-Flor, da Escola de Samba campeã do carnaval do Rio de Janeiro neste ano, declarou que “se não fosse a contravenção meter a mão no bolso, organizar, estaríamos ainda naquele negócio de arquibancada caindo, desfile terminando duas horas da tarde, cada escola desfilando duas, três horas e a hora que quer. E a coisa se organizou". Em seguida, falou em tom irônico: "Se hoje temos o maior espetáculo audiovisual do planeta, agradeça à contravenção".


A declaração do cantor e compositor, ainda no carnaval de 2015, mesmo que verdadeira, soou como meia verdade aos olhos de boa parte do povo brasileiro. Parcela da população que acredita na ilusão que fantasias luxuosas brotam em árvores, que para ter gasolina barata e ser uma potência energética, basta a Petrobras retirar petróleo do pré-sal, e que, milagres econômicos realmente são possíveis e funcionam muito bem.


Quem arquitetou tais milagres? Quem prometeu que as festas à fantasia nunca acabariam? Quem afirmou que medidas, como o ajuste fiscal proposto, não aconteceriam “nem que a vaca tossisse”? A não é 2018, e a grande campeã do carnaval carioca foi a Beija Flor, com um desfile crítico e contundente sobre a atual situação do Brasil. Não fosse seu patrono o Chefe do Jogo do Bixo no Rio de Janeiro, condenado por formação de quadrilha, teria sido um grande desfile cívico. Porém, ao criticar o sistema político brasileiro, a Beija Flor esqueceu que o dinheiro do seu chefe quadrilheiro é que pagou as fantasias e o título dedicado ao seu patrono. O Carnaval passou e é hora de guardar as fantasias. Mas deveras, o público não esquecesse a grandiosidade de tal desfile.


Enfim, a bateria da escola parou de tocar, o fim da festa chegou e com isso, é hora de voltarmos ao mundo real: aprendemos assim que milagres econômicos não existem, que deslumbrantes fantasias são sim, em sua maioria, propiciadas pela contravenção e que, o sonho de sermos uma potência petrolífera está dando lugar a um escândalo de corrupção como nunca visto na história do Brasil. Sobre a realidade do pós Carnaval, lembro a música de Martinho da Vila, “sonho de rei, de pirata e jardineira, pra tudo se acabar na quarta-feira”. É um banho de realidade.

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