O Fórum da Cultura do Trigo, realizado como parte da programação oficial da 19ª edição da EXPODIRETO Cotrijal na última quarta-feira (7), chamou mais atenção pelo debate acalorado de opiniões no final das apresentações do que, propriamente, pelo foco em um projeto de viabilização econômica do trigo gaúcho; ainda que, embora tenha passado despercebido, havia um projeto nesse sentido.
Antônio da Luz, economista da FARSUL, ao tratar da comparação de custos de produção nos principais países produtores de trigo, valendo-se, exclusivamente, do sistema Agri Benchmark, destacou que o custo de produção do trigo brasileiro está entre os mais altos do mundo. Essa particularidade, seguindo uma lógica estritamente econômica, ao salientar que temos um custo de produção muito elevado para as produtividades que obtemos, tem levado o trigo gaúcho a receber a pecha de “cultivo inviável” no Estado. Não se discute a lógica econômica da comparação do sistema Agri Benchmark, pois, friamente, os números estão postos para quem quiser olhar. Talvez, ainda que o economista da FARSUL insista que, no final, o que deve ser considerado é apenas “se dá ou não dá dinheiro”, a comparação também deva contabilizar, a favor do nosso trigo, os benefícios indiretos do cultivo de trigo no inverno sobre os cultivos de verão e na diluição dos custos fixos dos empreendimentos rurais. A contabilidade do sistema, com trigo no inverno e soja no verão, por exemplo, quem sabe mude o resultado dessa equação. Nesse aspecto, ainda cabe à área agronômica gerar os indicadores de valoração dos benefícios indiretos do trigo, quando cultivado com o enfoque sistêmico, para uso nos cálculo de custos de produção desse cereal no Rio Grande do Sul.
O consultor Luiz Carlos Pacheco, responsável pelo boletim Trigo & Farinhas, advogou que se deve dar menos foco na produção e mais na comercialização do trigo. Destacou o papel do trigo na arrecadação de tributos pelos Governos e o potencial de exportação para mercados do Leste da África e do Sudoeste da Ásia. Pacheco frisou o potencial de uso de mercado futuro pelos gerentes comerciais das organizações que trabalham com compra e venda de trigo no Brasil.
Sobre Mercado Futuro para trigo no Brasil cabe dizer que, por não existir, não pode ser operado. Evidentemente, trigo é uma commoditie que, a exemplo de outros países, também poderia ser operada pelas bolsas de mercadorias no Brasil. Mas, para que isso ocorra, é necessário que algumas coisas sejam, previamente, consolidadas. Entre elas, que tenhamos um padrão de identidade e qualidade que seja reconhecido pelo mercado. Isso envolve regularidade de produção, lado da oferta, e de qualidade tecnológica padronizada, identidade, em trigo. Esses atributos, apesar de toda a evolução alcançada, ainda estão em processo de construção no Brasil. E outra particularidade, que não pode ser negligenciada, é a liquidez do negócio trigo no Brasil, para que os chamados grupos de investidores tenham confiança em poder entrar e sair, comprando e vendendo papeis, conforme a conveniência econômica da ocasião. Enquanto isso não for uma realidade, esqueçamos Mercado Futuro de trigo no Brasil.
O pesquisador João Leonardo Pires, que é vinculado a Embrapa Trigo, apresentou os resultados do projeto “Desenvolvimento de sistemas de produção para trigo exportação em cooperativas do Rio Grande do Sul”. Essa iniciativa da FecoAgro/RS, com o apoio da Embrapa Trigo, tem sido, nas duas últimas safras, executada nos campos experimentais da Coopatrigo, em São Luiz Gonzaga, da Cotricampo, em Campo Novo, da Cotrirosa, em Santa Rosa, e da Cotripal, em Panambi; além de uma área da Embrapa, em Coxilha. Os resultados são inequívocos: o custo de produção do trigo pode ser reduzido em até 24%, sem comprometimento em produtividade e qualidade. Eis uma alternativa, ora em construção, para o trigo gaúcho: EXPORTAÇÃO! A outra, sem constrangimentos de ordem moral ou depreciativos, seria o uso como ingrediente de RAÇÃO para animais.