OPINIÃO

Livre arbítrio não é opção

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Somos ignorantes em relação a quase tudo que nos cerca e a quase tudo que faz parte do nosso mundo interior, nosso corpo e mente. O cientista Osvaldo Cruz enfrentou a circunstância no final do século XIX em que seu professor de microbiologia do Instituto Pasteur em Paris, onde foi apresentado aos alunos um microscópio com algum detalhe da bactéria e, após, uma luneta mostrando as nuances da lua. O professor queria dizer que não sabíamos se os maiores mistérios habitavam o mundo interno ou externo. Boa pergunta - ainda sem resposta.


À exceção dos profissionais da saúde nada sabemos sobre a anatomia do nosso corpo, nem o nome das peças que nos constituem. Vejam, por exemplo, a pituitária, uma glândula do tamanho de uma ervilha que se situa no crânio e que teria a ver com aquilo que chamamos de alma e ponte para existências anteriores.


Um pixel é o menor elemento em uma estrutura de exibição ao qual é possível atribuir uma cor. Um conjunto deles forma uma imagem. Num monitor colorido cada pixel é composto por um conjunto de 3 pontos: verde, vermelho e azul. Um milhão de pixels forma um megapixel. É possível que formemos milhões de matizes. Quanto mais pixels melhor é a definição. Uma câmera fotográfica digital bacana oferece 20-30 megapixels e o nosso olho tem a capacidade de 250-371 megapixels. Olha, que massa. É um presente que ganhamos.


Se juntarmos os 5 órgãos de sentidos que temos calcula-se que possuímos entre 400-600 mil pontos de captação de informações ao ambiente. Deve ser por isso que temos enorme dificuldade em nos concentrar em algo por mais de meia hora. Nascemos para ser dispersos e tem professor que tem a ilusão que pode prender a cabeça do aluno por muito mais tempo que isso.


Pituitária, olho cheio de megapixels, milhares de pontos de captação de informações e mais centenas de particularidades que poderiam ser elencadas – tudo isso forma o nosso corpo, resultado da evolução ao longo dos milhões de anos em que as estrelas emprestaram a nós a poeira que nos formou. A gente é o produto de uma evolução. Além dessa arquitetura memorável há a energia que nos move. A tecnologia da construção do nosso corpo nada valeria sem energia. Seria como se fôssemos um computador desligado o uma Ferrari sem combustível, ou seja, sem nenhuma serventia.


Para conhecermos o primeiro ser que veio a formar o que somos agora a antropologia-paleontologia diz que deveríamos colocar nossas fotos, uma colada a outra, em ordem inversa, em direção ao passado, a foto do filho, pai, avô, bisavô...e, assim, fotos encostadas umas nas outras levariam ao passado até vislumbramos o começo de tudo. Teríamos que andar pela imensidão de 64 km de fotos encostadas até atingirmos o primeiro de cada um de nós.


A gente é produto de uma evolução incrível, somos teoricamente mais perfeitos que qualquer máquina já desenvolvida. Por isso, entendo que livre arbítrio, ou a decisão de fazer coisas que orgulhem ou vexatórias, não deveria existir. Temos a obrigação, em nome da genética, do aperfeiçoamento constante de fazermos aquilo que de melhor está ao alcance. Abaixo ao livre arbítrio.

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