As celebrações do Domingo de Ramos dão início a Semana Santa e a liturgia católica introduz os fiéis ao estudo, à meditação e à celebração do tríduo pascal: paixão, morte e ressurreição. Não é uma mera biografia de Jesus Cristo ou uma aula de história ou uma história dramática para suscitar comoção sentimental. É, sim, uma narração destinada aos fiéis sobre os primeiros e fundamentais artigos da fé cristã. Revela a identidade e a presença salvífica de Deus na história do mundo, tornando-a história da salvação. O oficial do exército romano, quando viu Jesus expirar na cruz disse: “Na verdade, este homem era Filho de Deus” (Marcos 15,39).
A narração da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo é repleta de paradoxos. Temos palavras e atitudes de misericórdia, perdão, doação e por outro lado agressão, condenação, manipulação de pessoas, intolerância. Diante da variedade de temas, a presente reflexão pretende ressaltar elementos relacionados com o tema da Campanha da Fraternidade 2018: “Fraternidade e superação da violência”. Nunca é demais falar deste tema, pois o nosso referencial absoluto de superação da violência é Jesus Cristo. Se as narrações bíblicas lidas e meditadas na Semana Santa revelam a maior violência já feita contra um inocente, por outro lado a vítima ensina a superação da violência.
A Semana Santa começa com a narrativa da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Ela faz pensar, pois expõe um contraste entre a mentalidade humana e divina sobre autoridade e poder. Na história da humanidade, quanto mais poderoso foi e é um governante mais ostenta este poder com aparatos de ostentação. Em tempos de conflito, faz-se questão de mostrar a força bélica para justificar o poder de defesa e de destruição de um possível inimigo. Diz o evangelista Marcos que Jesus entra na cidade montado num jumentinho, com as pessoas próximas e elas fazendo um tapete com ramos verdes. Em vez de gritos de guerra, espadas em punho escutam-se gritos de aclamação: “Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem...” (Marcos 11,9-10). Não se questiona a necessidade de o país ter forças armadas e policiais, mas se questiona se confiar na força e no poder destruidor seja o melhor caminho de superação da violência.
O apóstolo São Paulo, escrevendo aos cristãos da cidade de Filipos, não narra, mas interpreta os acontecimentos pascais desta maneira. “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus! Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como um deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como homem abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz” (Fl 2,5-8).
Se esta foi a opção de Jesus Cristo, os seus seguidores precisam cultivar os mesmos sentimentos e as mesmas atitudes. Certamente, a mentalidade corrente distanciava o mundo divino na sua perfeição do mundo humano imperfeito. São Paulo ressalta que este mundo imperfeito foi abraçado plenamente pelo divino, quando Cristo assume a condição humana, inclusive a morte humilhante de cruz. Esta metodologia divina revela que uma situação dramática de violência só pode ser mudada se for assumida, reconhecida e abraçada a tal ponto que, quem deseja a mudança, participe na carne do mesmo sofrimento de todas as vítimas.