OPINIÃO

Teclando

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Mulher pelada

 Muito antes da palavra nudismo, a gurizada usava a expressão mulher pelada. Nossa! Era o máximo para um imaginário cercado pelo proibitivo. Fotografias expondo partes íntimas? Nem pensar. Mas, claro, havia a sensualidade de um decote ou de uma saia ao vento. O mais explícito eram os desenhos de Carlos Zéfiro, pequenas revistas apelidadas de ‘catecismo’, uma arte erótica de fino traço. Driblando a censura moralista, os tabus despencaram.  

Abriram-se as portas para a sensualidade e o erotismo. Recentemente, através de novas mídias, viralizou o sexo mais do que explícito e até atingindo a mais agressiva vulgaridade. Assim começou uma nova era de comunicação: a das redes sociais. Não tão sociáveis, mas redes para pegar incautos peixes. A obscenidade era apenas o prenúncio daquilo que estava por chegar. Espaço livre para poder se expressar era o que faltava aos inexpressivos.  

Pela insignificância qualificativa e uma liberdade quantitativa, surgiu um infinito para destilarem todas as formas de ódio reprimidas. Um forte indicativo de que os sentimentos enrustidos são aplacados pelo ódio expelido. Hoje, além de mulher pelada, podemos receber nos grupos muitos preconceitos, sangue, prepotência, racismo e oportunismo. Parece que o bem-estar coletivo atiça recalques. Estariam pensando em retroceder o filme para que o sargento Garcia consiga capturar o Zorro? Ora, rebobinar um filme é voltar  ao  início, no mínimo um  retrocesso. E assim caminha a humanidade pelas redes sociais. Enquanto isso, as mulheres passam e eles não acham graça. Certamente, essa turma não viu os desenhos de mulheres peladas do Zéfiro.

 

Mentira

Mentir é feio. Fomos educados ouvindo esta frase. Um ensinamento para toda uma vida, um princípio que passa de geração para geração. Em casa ou na escola, as arestas da mentira eram muito bem aparadas pelos pais ou professores. Crime ou pecado, a mentira sempre foi coibida pela sociedade. Mas, de uns tempos para cá, observo que aqueles ensinamentos foram esquecidos por algumas pessoas. A mentira está em alta. Há uma indústria bem estruturada que, utilizando formatadores de inverdades, produz materiais falsos para distribuição através de redes sociais. Profissionalizaram a mentira, sim. E quem passa adiante uma mentira também é um mentiroso. Assim, fico de queixo caído ao ver defensores dos bons costumes engajados na mentira. Certamente, na frente de um espelho eles conferem o tamanho do nariz. Isso porque eles sabem que mentir é feio e ainda lembram o exemplo de Pinóquio.

1º de Abril 

O 1º de abril é emblemático. É o mais autêntico momento dedicado à mentira. Dia dos bobos ou a data em que nos fazem de bobos. Mas, bobagens à parte, é tanta mentira que o dia dedicado à mentira até perdeu a graça. Hoje, de forma mais adequada, é a data alusiva aos que pregam mentiras. O próprio 1º de abril, que já foi negado, virou mentira. Pelo menos o 1º de abril deste ano já passou. Ufa. 

Trilha sonora

A música é do genial Michel Legrand para o filme Les Parapluies de Cherbourg, 1964. Depois, ganhou versões pelo mundo. Aqui em trechos do filme russo Admiral (Almirante), onde a beleza de Elizaveta Boyarskaya rouba todas as cenas. Na voz de Matt Monro: I Will Wait For You. Ouça pelo link.

Gostou? Compartilhe