O domínio do poder teve seu momento mais intenso, da forma oligárquica, ao influenciar o governo a partir da proclamação da República em 1889. A articulação implacável ocorreu em seqüência à abolição legal da escravidão. Os monopólios de produção, concentrados no processo de enriquecimento com base na exploração do trabalho escravo, fortaleceram-se nas mãos dos fazendeiros e latifundiários. A mentalidade de dominação da força de trabalho, com exploração, estendeu-se aos brancos, além da submissão aos negros libertos marcados pelas graves seqüelas do constrangimento secular. Uma vez criminalizada a escravidão e tortura física, o poder financeiro gerou o frenético período oligárquico implantado nos governos a partir de Prudente de Morais (1894-1898). Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, (até 1909) foram bancados por sistema eleitoral espúrio sob a égide das oligarquias. De Nilo Peçanha a Washington Luís o domínio do poder político seguiu estratégias semelhantes. A mentalidade escravista mantinha-se em novos moldes, impregnando dominação inclusive na era Vargas. Oligarquia (oligarkhia) é termo que deriva do grego e literalmente significa “governo de poucos”.
Rebeldia
Antes de pular para o momento atual, lembramos que houve movimentos questionadores à oligarquia estabelecida. Guerra dos Canudos, Revolta da Chibata, Guerra do Contestado, Revolta da Vacina, Coluna Prestes e outras erupções de descontentamento, opunham-se à hegemonia perversa. Há um rasto de luta e sangue em nossa história.
Corrupção sistêmica
O ministro Luiz Roberto Barroso, entre outros, reportou-se ao nosso estado atual na corrupção sistêmica. As garras do crime organizado mostraram a escalada no Brasil de potências que se fortaleceram à sombra do poder político. São tentáculos estarrecedores. As entranhas dos poderes e instituições foram invadidas pela ação organizada, dissimulada, nos átrios da República. A lesão desse sistema voraz e avassalador fez eclodir a Operação Lava Jato. A contaminação parece infinita, sabendo-se que nem todas as mazelas do assalto aos cofres públicos serão sequer reveladas. A polícia chegou à aristocracia podre. Esta além de tudo, um péssimo exemplo para os pobres e excluídos.
Lula na cadeia
O governo do PT, sob a liderança de Lula, alimentou a versão que presumia consolidar um poder dirigido a novos rumos. Apostou errado ao nutrir fortalezas manipuladas pelo controle central oligárquico. Lideranças do Congresso foram alimentadas pela corrupção. Quando a ação da Polícia Federal começou o desmonte da quadrilha que assaltou poder público, só a leda ingenuidade poderia esperar parcimônia de partidos políticos adversários, que se esbaldaram no roubo. Lula foi condenado por ato ilícito e está preso por decisão judicial em processo formalizado. Sofreu o massacre de opositores, mesmo os envergonhados por que estão atolados no crime de corrupção. Objetivamente, Lula condenado é assunto para a 12ª Vara de Execuções Criminais.
Efeitos
Uma visão esperançosas, em meio ao maniqueísmo, ou ódio partidário, é de que se fortaleça a urgência (inadiável) de prosseguir com a punição dos demais responsáveis pelo desastre da corrupção. Restabelecer maior equilíbrio entre o poder da oligarquia econômica é a condição “sine qua non”, para que o país evolua. E tem mais, se não evoluir cairá no abismo. O poder, especialmente o executivo e legislativo, ainda está na mão de inescrupulosos. Se o Brasil colocar toda sua criminalidade ainda viva e implacável, debaixo do tapete, fica impossível a paz social.
Obliteração
Nesta hora é preciso recorrer à advertência de Jorge Salton, em seu livro O Maniqueísmo em nossas Vidas. O princípio de Mani, no antagonismo – bem absoluto e o mal absoluto, gera distorção. Nessa concepção há uma base de “reducionismo, revanchismo, a generalização, a dogmatização, forma de pensar que, a partir de uma suspeita qualquer já salta para uma conclusão, ausência de autocrítica, inexistência de empatia e a necessidade de inimigos”. Admitir a idéia de que a prisão de Lula resolve o descalabro da corrupção é irremediável erro. O maniqueísmo produz obliteração, fundamentalismo do ódio e deturpa eventuais razões.