OPINIÃO

Os cientistas e o imaginário popular

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

No imaginário popular, o retrato de um cientista, quando publicamente projetado, corresponde a uma figura masculina, quase sempre idosa e, não raro, carregada com traços de excentricidade. Um modelo tipo Albert Einstein na fase final da carreira, com cabelos desalinhados, roupas amarrotadas, esbanjando simpatia, expondo a língua para os fotógrafos, disparando aforismos inteligentes e denotando preocupação com as grandes causas sociais afetas à atividade científica.


Einstein forjou, em especial na mente das gerações mais antigas, essa imagem do cientista puro e sem preocupações aparentes com a ciência aplicada. Mas, essa imagem idealizada de cientista, não necessariamente corresponde à realidade da comunidade científica. Se é que algum dia correspondeu! Inclusive, em certos aspectos, serviu para ofuscar e menosprezar a criatividade necessária nas ciências aplicadas de base tecnológica. Apenas pela via do pensamento, sem a experimentação aplicada, é improvável que tivéssemos ido muito mais além de onde Aristóteles já havia chegado.


Na atualidade, talvez, entre os jovens, a imagem que prevaleça de um cientista seja o protótipo de um nerd do universo geek. São exemplos, que destoam da imagem de Einstein, os personagens do seriado da televisão americana The Big Bang Theory. O físico teórico Sheldon Cooper e o físico experimental Leonard Hofstadter e os seus amigos Howard Wolowitz, o engenheiro aeroespacial, e o astrofísico Rajesh Koothrappali, vivendo, na ficção frise-se, o dia a dia do Instituto de Tecnologia da Califórnia - Caltech, em Pasadena/EUA, serviriam (e provavelmente servem) de modelos. Nesse meio, onde predomina gente com intelecto avantajado e socialmente desajeitadas, aficionada por videogames e por coleções de estatuetas (action figures) de Star Wars e Cavaleiros do Zodíaco, imagina-se, serão gestadas as grandes inovações teóricas e tecnológicas que ainda estão por vir. No presente, já usamos, sem nos darmos por conta, muitas delas nos gadgets eletrônicos (smartphnes, tablets, chromecasts, etc.) que permeiam o nosso dia a dia.


Se você não faz parte desse universo paralelo, não se esforce muito para entender e muito menos ouse julgar os comportamentos nerds. Você, simplesmente, não é parte do universo geek e ponto; ainda que desfrute de muitas benesses derivadas dele. Por isso, não os condene com tanta veemência. Apenas para exemplificar, sobre um conhecido nerd local, que ora está cumprindo programa de doutorado numa universidade inglesa, reza a lenda, que, de tão aficionado pelas action figures dos Cavaleiros do Zodíaco, chegou ao ponto de despedir a diarista porque após tirar o pó das estatuetas ela não conseguiu mais recompor a posição original de uma cena antológica dos cinco guerreiros que defendem a reencarnação da deusa Atena. Um crime hediondo!


A literatura e as artes de maneira geral têm sido responsáveis por construir, na imaginação das pessoas, uma idealização de cientistas, que, não raro, mais se aproxima de gênios do mal do que qualquer outra coisa. Esses personagens, representados por homens e mulheres de QIs elevados e moral duvidosa, se persuadidos a deixarem os seus laboratórios, tirarem os óculos de aros grossos e os jalecos manchados de sangue e deitarem no divã de um psicanalista, muito provavelmente, sairiam com o diagnostico de transtornos de desordem mental de toda sorte.


Há, no mundo das artes, uma galeria de cientistas malucos, cujo ingresso é garantido por indicadores de genialidade e insanidade. Em geral, são pessoas/personagens que não pensam pequeno, uma vez que conquistar o mundo é o mínimo que almejam. São uma mistura de personalidade narcisista, comportamento antissocial e incapacidade para sentir remorsos e demonstrar empatia.

 

Dr. Evil, Dr. Julius No, Professor Calculus, Lex Luthor, Dr. Frankenstein e Dr. Henry Jekyll são meros personagens do mundo da ficção. Mas, há... e esses FDPs, infelizmente, são de carne e osso.

Gostou? Compartilhe