Há alguns anos, quando a primeira sala 3D foi inaugurada em Passo Fundo, fui convidado por O Nacional para dar um depoimento sobre o formato. Provavelmente não fui a melhor opção porque na época já mostrava o quanto ele me desagradava. Comentei, na ocasião, que o 3D estava sendo valorizado demais. Poucos cineastas faziam ideia de como usar o formato, e a quantidade enorme de filmes sendo convertidos para 3D depois de lançados mostrava o quanto a indústria do cinema via a tecnologia apenas como um enfeite de bolo. Pior: o público, entorpecido pela novidade, comprava a ideia e pagava mais caro.
Pior, ainda, é o fato de o 3D ser uma distração: elementos importantes da linguagem cinematográfica poderiam se perder – para que o 3D funcione, é preciso que haja uma grande profundidade de campo, ou seja, quando tudo que aparece no plano esteja em foco, principalmente o fundo. Cenas em que haja pouca profundidade – com desfoque atrás dos personagens no primeiro plano – são inúteis em termos de 3D. Adaptar um filme pronto a ele, portanto, é saber que muitas partes do filme simplesmente não mudarão. Scorsese, em A Invenção de Hugo Cabret e Alfonso Cuarón, em Gravidade, são dois dos raros diretores que pensaram nisso ao filmar já pensando no 3D – e por isso seus filmes são considerados modelos, junto com Avatar, de Cameron (que também comete pecados com a profundidade de campo).
De minha parte, sempre fui contra, também, pelo desconforto, pela dor de cabeça - principalmente com legendas - o que também fez aumentar a oferta de filmes dublados para se adequarem melhor ao formato, ou seja, um duplo prejuízo - pelos óculos ruins e, no caso local, por deixar mais escura ainda a projeção. Ah, claro, e pelo preço.
A novidade (boa), publicada nessa semana num dos principais blogs de mercado de home video do Brasil, o blog do Judão, é a constatação de que os filmes 3D estão indo para o buraco. O CEO da IMAX Entertainment, Greg Foster, afirmou recentemente que a demanda por filmes 2D está começando a ultrapassar a de 3D nos EUA, menos filmes são feitos no formato e os lucros com ele diminuem - nos últimos dois anos, ele caiu quase 20%. TVs com tecnologia 3D estão deixando de ser produzidas como eram na febre do formato. Não significa que de uma hora para outra os filmes no formato deixarão de ser oferecidos por aqui, principalmente depois do investimento em salas equipadas para o formato – obviamente que o Brasil demora a assimilar o comportamento do restante do mundo. Aqui, como se ninguém olhasse para a tendência externa, as salas aumentaram de 2016 para cá, apesar dos problemas de qualidade do serviço e do preço. Porém, só de antever um cenário que dê preferência ao velho, bom e salutar 2D, que permite ver com clareza cada aspecto da produção – e não apenas “sentir” e “reagir” – minha fé em retomar com mais frequência a visita às salas aumenta.
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Para quem anda decepcionado – como comentei na semana passada – com os rumos de The Walking Dead e seu ritmo arrastado há três temporadas, a boa notícia é que, surpreendentemente, a nova temporada de Fear The Walking Dead começou MUITO boa.
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Na semana que vem, se tudo der certo, é hora de reservar espaço apenas pra diversão e agendar a ida ao cinema para assistir a Vingadores - Guerra Infinita. Se adiante ou se prepare para as filas. A pedida é mesmo, assim que for confirmada a programação, tentar antecipar a compra.