OPINIÃO

A fome cresce

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A comida é bem perecível, por natureza, mas a pendência econômica mais radical em relação ao direito à vida. A saga instintiva da sobrevivência ao deparar-se com a pobreza extrema altera tanto, mas tanto, a pulsação dos estímulos ao ponto de se tornar um novo estado de ânimo. O estado famélico, como fase individualizado da pobreza e miséria, transforma totalmente o ser humano, como acontece em todo o reino animal. Assim que, é melhor prestarmos atenção nos efeitos imponderáveis da fome que faz roncar a barriga e sobrecarrega o cérebro como um circuito de alterações sintomáticas. O conceito seletivo de atitudes, para o ser humano faminto cria novos parâmetros de cunho moral e estético. Sendo urgente e imediato o desejo de saciar a fome, surge alucinante visão dos preceitos, desprezando aparências e facetas que diferenciam o ser racional, tornando mais forte o estímulo originário de sustentação. Corpo e alma sentem as mesmas dores da carência. Mesmo heroicamente suportável, a falta de alimento do homem chega a um limite de suas resistências de autoestima, subjugando verdades. Nesta escala o abalo pode ser catastrófico entre o momento em que vasculha a lata de lixo para saciar a fome e o estertor de nada encontrar nem mesmo no lixo. Fala-se numa situação dramática, não com mero apelo retórico, mas pela realidade assustadora que aflige centenas e milhares de pessoas das periferias do Rio de Janeiro e São Paulo. Assistimos uma reportagem dolorosa que mostrou o retrato dessa fome extrema, em carne viva, na TV Record. A imoralidade da fome, seqüela do desemprego, arde nas favelas. E esta dor que mata (primeiro a alma) e o sonho de viver minimamente, infelizmente cresce. E vem de longe, das diferenças sociais, do crime organizado, da vilania em opulência e toda a corrupção.

 

Incompreensível
Embora as carências sociais venham numa escalada perigosa há algum tempo, essa injustiça abominável não a vemos por inteiro, tão próxima de nós. Mães dos grandes centros ainda se socorrem no desvelo de percorrer mercados, restaurantes e depósitos de frutas ou legumes, em busca de sobras para seus filhos. E ainda ouvimos ameaças de desativar programas sociais de ajuda alimentar a famílias miseráveis. Para estes, os cães são mais nobres.

 

Encarcerados
A estimativa revelada na reportagem é de que são dez milhões de pessoas famintas no país (dois milhões no Rio). É o turbilhão de desamparados que sobrevivem implacavelmente encarcerados pela falta de comida. Não há foro privilegiado.

 

Progressistas
As reiteradas acusações e prisões de líderes políticos que se concentram no PP, agora Progressistas, geram a grande perplexidade. Com a PF na cola, essa sucessão partidária aponta crescimento espantoso no Parlamento. O Progressistas é a terceira bancada do Congresso, a que mais cresceu e tem 50 deputados.

 

Mensalão Tucano
A confirmação em segunda instância da condenação do tucano Eduardo Azeredo, é histórica (desde 1998) - a versão avoenga da corrupção.


Errata
Na última coluna citamos preceito sobre o caráter inaceitável quando a alegação envolve a própria torpeza. Erramos, no entanto, ao dizer “auditor”. A expressão correta é “Nemo auditur propriam turpitudinem allegans” - versão latina que significa “ninguém pode ser ouvido alegando a própria torpeza”.

 

Uma luz
Há pouco mais de um ano li a obra publicada por Elizabeth Souza Ferreira, Uma Luz em Terras Africanas, baseada no diário de Emília Welter. Trata-se da missão estremada da religiosa Emília, que partiu de Passo Fundo para atuar na África, Moçambique. Nesta semana não resisti ao apelo que ficou crepitando, diante das narrativas do diário. A linguagem simples e clara da irmã sexagenária levou-nos a reviver a importância da vida inteiramente dedicada ao povo sofrido da África. A diferença de costumes, a diversidade, pobreza extrema, ignorância, doenças - como malária e cólera, são feridas que podem ser tratadas com o amor e sublime dedicação. Obra valiosa e universal que revela o grande milagre da solidariedade humana.

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