Na semana passada, por um leve descuido de diagramação e por um golpe de sorte de minha parte, a crônica que escrevi saiu como se fosse de Gilberto Cunha e isso emprestou a ela o necessário verniz do academicismo e, é provável que, por essa razão, tenha sido mais lida do que o costume. Isso me fez lembrar de um acontecimento do início dos anos 50 quando Benedicto Valadares, velha raposa mineira da política, publicou o romance “Espiridão”. Tido como inculto e produtor de pérolas ao estilo do ex-presidente do Corinthians Vicente Matheus, a real autoria do livro estava em descrédito e atribuía-se ao então genro Fernando Sabino. O escritor Otto Lara Rezende acudiu: o livro está muito ruim para ser de Sabino, mas está bom demais para ser de Benedicto. Faz parte, o descuido do diagramador beneficiou mais a mim do que a Gilberto.
Em outubro de 1977 minha cabeça dançava ao “Stayn’ alive (Bee Gees), Love for Sale (Bonnye M), From Her to Eternity (Giorgio Moroder) e Yes, Sir I Can Boggie (Baccara). Meu coração rodava ao som de Peninha “Sonhos” (mas, não tem revolta não, eu só quero que você se encontre bem, saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio, a esperança é um dom, que eu tenho em mim, não tem desespero não, amanhã será um novo dia e certamente eu vou ser mais feliz) porque minha namorada havia me deixado por um amigo comum. O subjetivismo dos meus vinte anos indicava-me que havia sido traído duplamente. Então, escrevi num rótulo de cerveja, lá no Gageiro, a letra de Sonhos e levei para a ex, na esperança humilhante de reconsideração. O tempo passou e troquei o subjetivismo pelo perspectivismo e compreendi que antes de ser deixado havia eu deixado minha namorada, com o tempo deixei de ser aquele cara que a encantou. Ela encontrara no amigo comum o que eu havia sido. Encontro-o e conversamos muitas coisas, inclusive sobre isso, sem rancores e tratamos de maneira adulta como coisas da vida. Ela, eu e ele estamos mais felizes, certamente.
Eu tinha sonhos como, por exemplo, que meu time jogasse bacana da mesma maneira fora de casa como dentro de nosso estádio. Sonho que se realiza. Também sonhava na possibilidade de que o país encontrasse o rumo na política. Agora vemos a luz, quando maus políticos, de todas as plumagens, estão em rota penitenciária. É gente do PT, PMDB, PSDB, PP...gente da irregularidade sem fim. No começo acena-se com ideologia; depois acena-se com intuito de salvar grupos; por fim, a tentativa de salvar a própria pele. São gentes diferentes da gente, mas estão indo embora. Cadeia para todos os gatunos.
Estou relendo Tarso de Castro, de Tom Cardoso (75 kg de Músculos e Fúria) que recebi autografado em 16.10.08. Sinto-me como se Rio houvesse vivido e percebo ainda uma vez a importância desse cara no cenário jornalístico de uma época de privação de publicações que emitissem perigo real e imediato ao governo militar. É na coragem, na habilidade, na inteligência e impetuosidade que Tarso se fez respeitado e amado por lindas mulheres e autoridades do meio jornalístico e político. Foi invejado e odiado por alguns. Faz parte da vida dos que sobrenadam. Orgulho em escrever crônicas no jornal da família Múcio de Castro.