OPINIÃO

Eliseu

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Eliseu Roberto de Andrade Alves, aos 87 anos de idade, ainda cumpre, diligentemente, a rotina diária de 8 horas de trabalho, tal qual qualquer outro empregado, na sede da Embrapa, em Brasília, DF. Por que esse homem, que foi fundador e é considerado o mais importante colaborador dessa empresa, faz isso? Eis uma questão intrigante, cuja resposta pode ser encontrada no livro “Prosa com Eliseu/entrevista a Jorge Duarte”, que acaba de ser publicado na série Memória Embrapa e encontra-se disponível para download gratuito no endereço https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1090761/prosa-com-eliseu-entrevista-a-jorge-duarte 

Após muitas horas de conversação com o Dr. Eliseu Alves, o jornalista Jorge Duarte conseguiu traçar, mais do que um retrato da vida pessoal e profissional do entrevistado, uma breve história do papel da extensão rural e da pesquisa agrícola no desenvolvimento do Brasil. E, mais relevante, apontou, na visão de um gestor e cientista singular, os rumos a serem seguidos se quisermos ir um pouco mais além.

 

Eliseu Alves nasceu em São João Del Rei, em Minas Gerais, mas foi criado na fazenda do avô, no município vizinho de Itutinga, onde viveria até os nove anos. Depois, até o ingresso, em 1951, com a 1ª colocação, na Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (atual Universidade Federal de Viçosa), passou 11 anos em colégios internos, começando pelo Ginásio Gammon, de orientação presbiteriana, onde consolidou a religiosidade e a fé em Deus, que são professadas até hoje.


A carreira de Eliseu Alves teve início na extensão rural. Ingressou, em 1955, na Acar MG (atual Emater-MG), um marco da extensão rural no Brasil, criada em 1948, sob os auspícios financeiros do empresário americano Nelson Rockefeller. Em 1965, casado com uma prima, Dona Eloisa, e pai de dois filhos, Edilberto (morto aos 33 anos, em 1995, num acidente de carro) e Elisabete, vai para os EUA cumprir programa de mestrado e doutorado em Economia Agrícola, sob a orientação do professor Edward Schuh, na Purdue University, em Indiana. Voltou ao Brasil em 1968, com uma dissertação de mestrado cuja conclusão fora de que não havia diferença no desenvolvimento da agricultura entre municípios assistidos e não assistidos pela extensão rural em Minas Gerais. Aqui estava o insight que o levaria a repensar a extensão rural brasileira e qual o novo tipo de pesquisa agrícola que o País necessitava. Por isso, Eliseu Alves costuma enaltecer mais a sua dissertação de mestrado do que a tese de doutorado, cujo título de Ph.D. foi obtido, também pela Purdue University, em 1972.


Eliseu Alves, que fez parte da primeira diretoria da Embrapa e, como seu segundo presidente (1979-1985), foi quem consolidou o novo modelo de pesquisa no País, não hesita afirmar que a agricultura brasileira moderna começou, de fato, em 1973, quando da criação dessa empresa, e, paralelamente, com os avanços de conhecimento obtidos nos cursos de pós-graduação em ciências agrárias no Brasil. O foco na solução dos problemas dos agricultores, a sistematização do conhecimento, a ênfase na capacitação dos cientistas e em comunicação de resultados levaram, por um lado, a um reconhecido programa de distribuição de renda (crescimento da economia e queda nos preços dos alimentos), e, por outro, ao aumento da desigualdade no campo, uma vez que, pelas imperfeições de mercado, cerca de 3,9 milhões de estabelecimentos rurais no País (pelos dados do censo de 2006, podendo piorar quando da divulgação do novo censo) ficaram à margem da modernização da nossa agricultura. Eis o desafio, como incorporar esses agricultores de forma competitiva nesse processo, em que, cada vez mais, na chamada produtividade total dos fatores, os clássicos “terra e trabalho” perdem força diante do “capital/inovação tecnológica”.


Quanto aos motivos de por que o Dr. Eliseu Alves, aos 87 anos, ainda continua trabalhando na Embrapa, eis a resposta dele: “a Embrapa é a maior ideia na qual me engajei de corpo e alma e trabalho por obrigação com a sociedade”.

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