É preciso compreender que a extrema perversidade da escravidão teve seu grau de lesividade histórica abrangendo a consciência social, cívica e religiosa de nosso país. Ainda em 1534, para colonizar o Brasil, D. João III concedeu regalias aos apaniguados das capitanias com poder de fazer cativos e explorá-los de todas as formas. A força de trabalho do escravo foi lançada ao precito por três séculos de gerações de amargura. O estupendo martírio que sufocava negros e nativos vítimas dos horrores teve também expressões de rebeldia, embora sufocados pela narrativa cruel dos poderosos. As buscas históricas da literatura vêm acrescentando heróis de ação e pensamento. Eles descendem do sangue redentor de Zumbi dos Palmares, José do Patrocínio (o Tigre da Abolição), Castro Alves e tantos revoltosos contra a tirania.
O trabalho Coletivo
Até pouco mais de um século, a denominada civilização agrícola que se iniciava, decepcionava os que só acreditavam no trabalho escravo. “O Brasil não parou a 13 de maio. Ao contrário, foi nesta data que o trabalho coletivo começou”, como define Osvaldo Orico. Entenda-se que, além da libertação oficializada dos escravos, inseria-se no rol de produção também o branco que pensava ser livre, mas preso na própria inércia. A escravidão atrelou conceitos absurdos. Uma dessas aberrações é de que quem deveria trabalhar era o escravo, como ser inferior. Com isso, apodreceu a capacidade criativa da geração brasileira. A afasia ao desenvolvimento retardou a coragem dos cidadãos que não aprenderam a produzir por ojeriza ao trabalho. Isso também cravou descrença que só favorece a minoria do poder que sonega condições ao desenvolvimento dos mais pobres. “Um furacão varreu o Brasil entre 8 e 13 de maio de 1888. Não chegou de repente. Era previsível” diz Juremir Machado da Silva, em Raízes do Conservadorismo Brasileiro. Por essa e tantas o processo ético de respeito ao ser humano, pela força de trabalho (e inteligência) precisa evoluir. Só o escandir da luta heróica dos próprios escravos, almas resistentes, e pensadores de várias matizes explica melhor a grande importância do 13 de maio.
Dama e o cão
O episódio trazido a público sobre a punição da servidora que não ajudou a primeira dama Marcela Temer a retirar o cão Piculy que caiu no lago, nem merece comentário. Nem a funcionária teria alegado direito de defesa.
Geddel
O ex-ministro de Temer, Geddel Vieira Lima, deve ser um tipo de personalidade estimulada pela moral do poder deturpado, fortemente firmado no período de escravidão. Essa dinastia do mal vem revestida do completo desprezo ao ser humano. Certamente levita, sem embargo, no conceito de Paracelso “mundus vult decipi, ergo decipiatur” (o mundo quer ser enganado, pois que o seja). O conceito nutre oligarquias como esta impregnada no sistema brasileiro. A frase, aliás, seria também atribuída a Caraffa, que se tornou o Papa Paulo IV!
Uso compartilhado
Pareceu-nos valiosa a abordagem da mestra em direito, Flora Regina Camargo Ferreira, sobre áreas do Exército. Ela é capitão do exército. Teve a coragem e escreveu sobre áreas de treinamento ou reservas militares. Avalia como importante o zelo ambiental dessas terras, além do uso do patrimônio para treinamento, segurança nacional, defesa e soberania. O detalhe é a ênfase ao uso compartilhado, uma vez constatadas invasões por população ribeirinha que busca subsistência. Em levantamentos de glebas surgiram também invasores de elite, favorecidos não se sabe por quem, instalando mansões de lazer particular. Não se tem dúvida, esses casos serão resolvidos.
A mãe
Um dos versos mais densos e prenhes de esperança, embora seu estigma condoreiro, foi escrito pelo poeta Castro Alves: “ Lá nas areias infindas, /Das palmeiras no país,/ Nasceram – crianças lindas, / Nasceram moças gentis...”
Mães
Precisamos de mães que governem o mundo!