OPINIÃO

Agricultura em transformação

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A agricultura brasileira, retratada pela experiência que transformou uma nação que, até os anos 1970, padecia de insegurança alimentar em um dos principais países produtores/exportadores de alimentos no mundo, foi destaque, essa semana (15), em evento especial organizado pelo International Food Policy Research Institute (IFPRI) e pela Embrapa, em Washington D.C./USA. O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, foi o palestrante principal do encontro e tratou, especificamente, do tema “Transformando a agricultura: experiências e insights do Brasil e além". As palestras do evento, vídeos e slides, estão disponíveis no sítio Internet do IFPRI: https://www.ifpri.org/event/transforming-agriculture-experiences-and-insights-brazil-and-beyond.


Efetivamente, a agricultura brasileira moderna começou a ser construída a partir do reconhecimento que um país, cujo território está, majoritariamente, inserido na faixa tropical do planeta, com solos ácidos e quimicamente pobres, exigia tecnologia especifica e, não raro, diferente daquelas tradicionalmente usadas em regiões de clima temperado no mundo. A opção, em 1973, pelo investimento público em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), tanto em pesquisa básica quanto aplicada, em melhoramento genético de plantas e animas, em práticas de manejo de solos, cultivos e rebanhos, paralelamente ao desenvolvimento de novos produtos e processos, transformaram a realidade da agricultura brasileira, convertendo esse setor em um dos mais importantes da economia nacional na atualidade.


O caminho trilhado, nos últimos 45 anos, não foi nada fácil, como podem aparentar os indicadores atuais de desempenho da agricultura brasileira. A primeira fase, dessa verdadeira revolução agrícola, incluiu a conversão de solos ácidos e pobres em terras férteis, com a tropicalização de cultivos e de sistemas de produção animal, sob os auspícios de políticas públicas e subsídios governamentais específicos para o setor. A soja, cujo cultivo, por exemplo, era, originalmente, restrito ao sul do Brasil, conseguiu, pelos programas brasileiros de melhoramento genético, usando genes de juvenilidade, avançar para o norte do País, conquistando, em paralelo com a correção química dos solos, boa parte do bioma Cerrado. Nesse rol de tecnologias, inclui-se a consolidação de práticas de base conservacionista, caso do sistema plantio direto e a fixação biológica de nitrogênio, que, isoladamente, representa, nos 35 milhões de hectares cultivados de soja, uma economia de gastos pelos produtores rurais da ordem de US$ 13 bilhões por ano em fertilizantes nitrogenados.


A segunda etapa dessa trajetória, acompanhando tendências mundiais, tem primado pela obediência ao paradigma da sustentabilidade. Nesse escopo, incluem-se a necessidade da observação de normas que estão positivadas em marcos legais que regulam o uso da terra, do solo, da água e da exploração da biodiversidade nacional (a exemplo do Código Florestal ora vigente no Brasil, Lei 12651, de 25 de maio de 2012). Além de outras convenções internacionais das quais o Brasil é signatário. Estima-se que 63% do território brasileiro, contabilizando 563.736.030 ha, estão, atualmente, preservados, por meio de marcos legais ou pelo tipo de uso em curso. Isso, necessariamente, leva à necessidade de intensificação da nossa agricultura, que ocupa 32,0 % das terras com cultivos e pastagens, visando à manutenção ou à elevação da produção nacional. A nova expansão de fronteira agrícola no Brasil, possivelmente, será pela recuperação das chamadas áreas de pastagens degradadas, que são estimadas em 50 milhões de hectares.


Em termos de futuro, avanços são esperados na integração de sistemas (lavoura – pecuária – floresta), na exploração da multifuncionalidade da agricultura (alimentos, fibras, energia, serviços ambientais, turismo rural, etc.) e em bioeconomia da chamada nova agricultura tropical.

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