OPINIÃO

Fragmentos

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No último sábado almocei com enciclopédias da cirurgia geral e trauma, Drs Samir Rasslan e Roberto Saad Jr, em restaurante próximo ao Sírio. Lá frequentam artistas globais e, enquanto saía, adentrava Ricardo Boechat. Sentar-me à mesa com celebridades de meu ramo de conhecimento e trocarmos ideias sobre o passado e futuro da cirurgia e trauma, sobre os destinos das faculdades de medicina e à cerca do butim científico que deixaremos aos jovens vale mais do que qualquer certificado de conclusão de cursos. À noite perdi os shows de Erasure (a little respect), Ozzy Osborne e Marcos Valle/Carlos Lyra/João Donato/Roberto Menescal (personagens de memórias do tempo que não vivi e que constam abundantemente nos livros de Ruy Castro); todos os shows que pretendia assistir estavam com os ingressos esgotados, que pena.


Passo Fundo claudica com a estrada Transbrasiliana que há décadas aguarda asfaltamento; com a duplicação da estrada para Marau; com os tropeços do futebol profissional do EC Passo Fundo, com a timidez indesculpável do aeroporto e com a dificuldade de grandes empreendimentos ligados ao varejo se instalarem no rincão. Que é que há? Tem gente nos ultrapassando em alta velocidade e vamos ficando de lado.


Meu filho completou 27 anos em 17 de maio. Quando tinha essa idade constava 1984, o ano em que deixei de ser menino para ser homem. Havia regressado de meu período militar obrigatório em Santiago (terra de Gilberto Monteiro), tinha sido submetido a uma espécie de exílio (longe dos amigos e com pouca grana) e necessitava estabelecer o que seria da minha vida ou do resto dela. Aos 27 compreendi que, ao contrário do que imaginava, pouco conhecia da vida e que seria necessário ouvir mais do que falar, sobretudo ler. Essa introspecção permitiu que, se não soubesse claramente o que queria da vida, pelo menos eu saberia o que não querer para o futuro. O destino e os caminhos dele se assemelham aos meus e fico feliz em repassar ao meu menino as minhas aventuras e desventuras.


Encontro amigo que, choroso, revela estar convivendo com câncer de próstata. Ouço-o e repasso o que aprendi com uma verdadeira fera de convívios e ressonâncias. A fera tinha uma doença grave e estava feliz. Disse-me: “Deus gosta muito de mim; pedi candidamente a Ele que se uma bomba qualquer caísse em minha família que caísse em mim, nunca na minha mulher e filhos ou netos. Ele me ouviu e me abençoou, todos os dias agradeço em oração”. Disse então, ao amigo choroso que o capitão do time desce para o vestiário com o placar adverso de 0x4 e diz para a turma desarvorada com o resultado parcial: se agente não conseguir reverter o resultado, vamos jogar pela honra, como se estivesse 0x0. Esse é o capitão, o cara que vai dar entrevista coletiva nas desgraças, que vai dar a cara à tapa, o cara que não vai fugir das responsabilidades. Não é todo mundo que é capitão mas, todos podem ser.


É assim a vida, de observações e aprendizados. Melhor ouvir Coldplay.

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